21 de março de 2017 | N° 18798
DAVID COIMBRA
O cartaz na entrada da escola
Na entrada da escola em que estuda o meu filho, há um cartaz com o seguinte aviso:
“Nesta escola são bem-vindos: Alunos de todas as raças, etnias e nacionalidades;
Alunos com necessidades especiais;
Alunos que são LGBT; Alunos de todas as estruturas familiares;
Alunos que estão aprendendo a falar inglês; Alunos de todas as religiões;
Alunos de todas as faixas socioeconômicas; Alunos com todos os tipos de corpo
... Você!”.
Gosto muito disso. Por muitas razões, duas em especial. A primeira, pelo conteúdo em si da mensagem. Trata-se de uma escola sem preconceitos, aberta e receptiva, como todas as instituições (e pessoas) deveriam ser. A segunda, porque essa postura não é uma bandeira. Os alunos não são doutrinados, não são feitas campanhas para transformar as mentes. Nem precisa. O exemplo basta.
Trata-se de grande sabedoria. Porque a forma mais fácil de afastar as pessoas de uma causa é torná-la excludente. Era um defeito típico das esquerdas, hoje adotado pelas direitas.
Antes de todas essas convulsões políticas e das lutas virtuais na “rede”, as direitas brasileiras limitavam-se a fazer o que a escola do meu filho definiria como discriminação socioeconômica. Se o sujeito fosse rico, podia ser negro, gay, gago, muçulmano e comunista, não haveria problema.
Já as esquerdas faziam a discriminação intelectual. O outro era julgado por suas ideias políticas presuntivas ou por seus supostos sentimentos. Se houvesse desconfiança de que era de direita, seria discriminado e ridicularizado.
São, ambos, comportamentos elitistas. As direitas acreditando na superioridade material, as esquerdas acreditando na superioridade moral.
Qualquer atitude elitista é negativa, mas os que se julgam moralmente superiores são repulsivos. A crença de que se pertence a uma casta de iluminados defensores dos oprimidos é confortável para a consciência do crente, mas absolutamente asquerosa para quem observa com alguma distância.
As esquerdas sempre foram assim. Agora, as direitas as imitaram. No Brasil, as coisas boas que o PT defendia são consideradas ruins pela direita não porque elas são o que são, mas porque o PT as defendia, ou dizia defender.
É um silogismo tacanho. Funciona desta forma: “Hitler era ruim. Hitler era vegetariano e amava os animais.
Logo, o vegetarianismo e o amor pelos animais são ruins”.
Vale para o outro lado também. A tendência natural que as pessoas têm de fazer associações binárias é explorada à exaustão pelas raposas políticas brasileiras. Tipo:
“O governo Temer é ruim. Temer chegou ao poder por causa do impeachment de Dilma.
Logo, o impeachment de Dilma é ruim”.
Por aí vai. O fato é que estamos cercados de juízes da moral, neste país tropical. Não é de se duvidar que, no Brasil, uma escola colocasse um cartaz na entrada avisando o seguinte:
“Nesta escola NÃO são bem-vindos: Alunos que tenham preconceito contra quaisquer raças, etnias e nacionalidades;
Alunos que discriminem os que têm necessidades especiais;
Alunos que sejam contra os LGBT...”. Parece a mesma coisa, quando é o oposto.
A exclusão, mesmo que seja de quem exclui, nunca ajuda a incluir.
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