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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Hélio Schwartsman
Clima, impérios e bruxas
SÃO PAULO - Secas moderadas podem ter contribuído para o fim dos maias. Qual o papel do acaso e de forças a ele correlatas, como intempéries e cataclismos, na história?
Um pouco por culpa da tendência de seres humanos de nos colocarmos como centro de tudo, um pouco por excessos da tradição marxista, que só tinha olhos para as relações econômicas, a historiografia passou um bom tempo menosprezando fatores geográficos e climáticos.
A moda começou a ser quebrada com a publicação de obras como a do geógrafo Jared Diamond, que, em "Armas, Germes e Aço" e "Colapso", colocou a ecologia e o clima como explicações centrais para o surgimento e o ocaso de civilizações.
Na mesma linha de pesquisa vão Raymond Fisman e Edward Miguel que, em "Economic Gangsters", atribuem boa parte dos desastres da África aos caprichos do clima. Eles analisaram a relação entre secas e guerras civis e concluíram que o fator climático explica os conflitos até melhor do que as divisões étnicas e religiosas. Para esses economistas, uma queda de 5% no PIB, comum em vários países nos anos de seca, eleva em 50% (de 20% para 30%) o risco de ocorrer uma guerra civil nos 12 meses seguintes.
Fisman e Miguel também acharam correlações mais improváveis, como aquela entre a falta de chuvas e o maior número de mulheres assassinadas por bruxaria na Tanzânia. A deterioração das condições econômicas leva as famílias a sacrificarem alguns de seus membros. A escolha acaba recaindo sobre as "bruxas", isto é, as duplamente vulneráveis: mulheres mais idosas.
Nós, no conforto de nossos supermercados, já nos esquecemos de que, durante a maior parte de sua existência, a humanidade travava uma luta diária pela sobrevivência, na qual pequenas variações, como o volume de precipitações ou o humor do tirano de plantão, podiam revelar-se decisivos para o futuro do grupo.
helio@uol.com.br
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