terça-feira, 21 de fevereiro de 2012



21 de fevereiro de 2012 | N° 16986
PAULO SANT’ANA


A queda do Carnaval

É Carnaval e eu vejo com muita tristeza a diferença, por exemplo, entre o Carnaval baiano e o gaúcho.

É tão grande a efusão de alegria popular no Carnaval da Bahia, que chegou-se a temer gravemente, em face da greve dos policiais militares baianos, que não fosse possível haver Carnaval por lá.

Seria uma tragédia.

É impressionante como se entregam à folia os baianos, os pernambucanos, os paraenses, até mesmo os cariocas, embora estes últimos se valham apenas das escolas de samba e dos cordões carnavalescos.

No Rio Grande do Sul, houve uma grande transformação no Carnaval das últimas décadas: por aqui, o Carnaval de salão nos clubes era uma cachaça, algo que tomava conta de todo o Estado, uma festa espetacular espalhada por todas as cidades.

Hoje murchou o Carnaval de salão no Rio Grande do Sul e apenas algumas cidades fazem desfile de escolas de samba.

Na Bahia e em Pernambuco sobrevive o autêntico Carnaval brasileiro, participativo e atuante, tomando conta do povo.

É entusiasmante ver-se como a juventude baiana se entrega ao Carnaval de rua, atrás dos seus trios elétricos.

São transbordantes de alegria as manifestações do Carnaval baiano, emoldurado pelas letras das músicas, que são cantadas como hinos de congratulação com a vida, uma entrega à alegria talvez jamais vista em qualquer parte do mundo.

Houve um tempo em que aqui no Rio Grande do Sul o Carnaval era uma festa emocionante.

Hoje, usam os gaúchos os feriados de Carnaval somente para dirigirem-se às praias e à Serra, não há mais aquele entusiasmo pelas fantasias, pelos confetes, pelos homens vestidos de mulher, pelo lança-perfume, mas principalmente pelos bailes de salão nos clubes, uma verdadeira religião de que se tomavam os gaúchos em todas as partes.

É uma pena para nós, gaúchos, que tenha arrefecido assim com o tempo o nosso Carnaval. Era uma festa marcante, uma alegria da vida, ir ao Baile do Verde e Branco do Teresópolis, aos bailes do Gondoleiros, aos bailes do Dinamite e do Panamirim, aos bailes da Sogipa, em Porto Alegre, ou ao Brilhante, em Pelotas, aos bailes de São Lourenço, aos desfiles em São Jerônimo, estes eram um dos maiores prazeres da vida.

Essa decadência do Carnaval gaúcho influi decisivamente no ânimo da existência entre nós. Ficamos mais tristes depois que nos desligamos do Carnaval. E ficamos menos poéticos, menos filosóficos, uma grande perda para as nossas tradições, para a nossa cultura, mas acima de tudo uma grande perda para a nossa vida.

Vejo com intensa inveja os espetáculos do Carnaval baiano. Na Bahia, a alegria de viver tem data marcada todos os anos pelo Carnaval.

E bastam poucos dias de intensa folia no Carnaval para que o povo baiano se sinta feliz durante todo o ano, como se sentia o povo gaúcho.

Ficamos imensamente mais tristes depois que fomos nos desligando do Carnaval.

E não é nostalgia isso, não. É a pura, dura e triste realidade.

Felizes dos que ainda se divertem no Carnaval. Mas aqui no RS são poucos.

Uma pena.

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