sábado, 11 de fevereiro de 2012



12 de fevereiro de 2012 | N° 16977
PAULO SANT’ANA


Colapso anunciado

Sem dúvida, o dado publicado esta semana por Zero Hora é apavorante: o Rio Grande do Sul já dispõe de um veículo automotor para cada dois habitantes.

Temos 5 milhões de carros e 10 milhões de habitantes.

Em alguns anos, a crescer assim vertiginosamente o número de veículos, na base de 56,6% a cada 10 anos, teremos um carro para cada habitante.

Ao contrário do engenheiro Luiz Afonso Senna, prevejo um colapso para o trânsito brasileiro em curto espaço de tempo.

O engenheiro diz que nos EUA e no Japão já aconteceu esse fenômeno e eles não pararam por isso.

Ora, doutor Senna, não pararam porque têm metrô. Não pararam porque têm melhores estradas do que nós.

Só que aqui, doutor Senna, enquanto aumenta assim o número de carros, cada vez se atrasa mais o mundo dos metrôs e cada vez mais se deterioram as nossas estradas.

Portanto, como a reportagem de ZH anunciou, estamos à beira do colapso. Os engarrafamentos se sucedem e em seguida virá o dia em que entupirão as vias de trânsito na cidade. As que ainda não estão entupidas, porque Porto Alegre é hoje já um suplício para quem dirige. E, o mais grave, com os engarrafamentos, os veículos passam a consumir o dobro de combustível. Um desperdício colossal de fortunas.

Tudo pela imprevidência das nossas autoridades. Há um detalhe muito simples que colabora para os engarrafamentos: o trânsito só engarrafa das 7h às 19h, para simplificar.

Portanto, temos 12 horas por dia de engarrafamento. Nas outras 12 horas do dia, não há engarrafamento. Em suma, à noite não há engarrafamento.

Então, por que não dirigir os serviços nas cidades para a noite? Eu radicalizaria: os bancos só deveriam funcionar à noite.

Teria de haver revezamento das repartições públicas, grande parte delas seria obrigada a funcionar só à noite.

Assim como se faz atualmente, os bancos e as repartições públicas funcionando só pela manhã e pela tarde, é lógico que todo o trânsito se ocupará somente desse período nas cidades. Isso é de uma burrice espantosa.

Como é que os colégios funcionam pelas manhãs, pelas tardes e pelas noites? Assim tinha de ser também com os bancos, as repartições públicas e outros serviços.

O que nós temos de fazer, com planejamento que se inicie já, é botar nas ruas pela noite o maior número de carros possível. É claro que seu fluxo diminuiria então intensamente durante o dia.

Do contrário, terão de ser violentados os cidadãos. Fatalmente vão acabar cobrando pedágio nas ruas das cidades para os veículos trafegarem.

E pedágios só poderiam ser implantados de maneira justa se tivéssemos transporte coletivo à altura de nossas cidades. E não temos. E tão cedo não iremos ter.

Trânsito de placas com final ímpar num dia e de final par no outro é injusto: paga-se imposto para trafegar todos os dias, e reduzir em 50% o direito de trafegar é uma violência inominável. Além do que, com essa fúria de aquisição de veículos, as pessoas passariam a comprar o dobro de carros, usariam as placas pares num dia e as ímpares no dia seguinte, o que daria no mesmo colapso.

Levar os carros a trafegar à noite, em serviço, em trabalho, em encargos, é a solução.

Porque esperar que construam metrôs é tão absurdo como esperar que algum dia os dirigentes do Grêmio façam uma equipe digna da tradição do clube.

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