quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012



09 de fevereiro de 2012 | N° 16974
ARTIGOS


Temos direito a explicações!

A população gaúcha e a torcida do Internacional, em particular, acompanham, incrédulas, o interminável imbróglio em que se transformou a formalização da parceria entre o clube e a construtora Andrade Gutierrez. Já não são mais aceitáveis as justificativas e as explicações – ou, mais precisamente, a falta delas – para as sucessivas postergações na assinatura do famoso contrato e a retomada das obras.

A posição da AG, negando-se em oferecer informações sobre o tema, é desrespeitosa, beirando a arrogância, não só para com o Internacional e seus torcedores, mas, também, para com os gaúchos, em geral. Vale lembrar que a Copa do Mundo 2014 é uma ação oficial de governo, beneficiada com investimentos públicos e isenção de impostos. A construtora deve, sim, explicações e prestação de contas de suas intenções, iniciativas e cronogramas ao Internacional, ao governo e ao público.

A postura da empresa dá abrigo ao conjunto de dúvidas e boatos que proliferam na população. Já não se tem certeza sobre as suas reais intenções e a seriedade na condução do negócio. A omissão de seu representante em Porto Alegre – alegadamente por não estar autorizado a manifestar-se – deveria ser contraposta com a exigência, pelo Internacional/governo, da presença de um interlocutor habilitado, então, a falar claramente em nome da AG.

O Rio Grande do Sul e o Internacional já foram severamente prejudicados pela forma com que a modernização do Beira-Rio vem sendo conduzida.

A exclusão de Porto Alegre como sede da Copa das Confederações; o limitado número de jogos na Copa 2014, alienada como sede das partidas nas fases finais; as perdas do marketing do clube pela indefinição das obras no estádio – você compraria, hoje, a camiseta “Beira-Rio, a Copa é aqui!” ? – são alguns exemplos disto. Sem considerar o claro dano que a imagem do Internacional vem sofrendo com a longa paralisação das obras e a indefinição da situação. Estado e Internacional tornaram-se reféns da construtora.

Não tenho dúvidas de que, tecnicamente, a viabilidade das obras no, agora, exíguo prazo disponível está garantida. O uso das soluções industrializadas com concreto pré-fabricado nas arquibancadas e estrutura metálica na cobertura permitem que – com adequado aporte de recursos – se cumpram os prazos. O ponto crítico poderá ser o fornecimento e a montagem do revestimento sintético, sequer contratado com fornecedores internacionais, que detêm patente desta tecnologia.

Entretanto, um aspecto merece atenção e o nosso alerta. Empreiteiras são especialistas em apertar cronogramas gerando dificuldades e alegados “imprevistos” para pressionarem governos e contratantes na obtenção de aditivos; liberação de verbas ou financiamentos com vantagens.

Orçamentos crescem muito em nome de alegados fatos novos na obra. A intervenção em uma obra existente como o Beira-Rio é um prato cheio para que a história se repita, sobretudo quando se tem urgência em concluir a obra. Criam-se dificuldades para colher facilidades! A reforma do Maracanã, também com a participação da AG, é um testemunho disso. O Inter e o RS precisam estar atentos.

Parece fundamental que a torcida colorada, suas várias correntes políticas, nossos governantes e os diferentes segmentos da sociedade – todos atingidos por uma eventual exclusão do RS como sede da Copa 2014 – precisam se unir apoiando a direção do Internacional e cobrando uma posição pública da construtora Andrade Gutierrez.

A empresa não pode tratar a população gaúcha como fantoches, tem compromissos públicos assumidos com o empreendimento desde que apresentou proposta para a realização das obras. Sua posição omissa e titubeante vem causando vários prejuízos à comunidade rio-grandense e precisa ser responsabilizada por isso. Nós merecemos explicações claras!

*Engenheiro civil, ex-diretor e ex-conselheiro do Internacional - FELIPE BRASIL VIEGAS *

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