terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


Hélio Schwartsman

A felicidade não mora ao lado

SÃO PAULO - Deu na Folha que o caos do trânsito paulistano atingiu o ABC. Os suspeitos são os de sempre: aumento da frota, boom imobiliário e sistema viário obsoleto.

Esse é um daqueles paradoxos do mundo moderno. A fim de aumentar a qualidade de vida, muitas famílias decidem ir morar um pouquinho mais longe, onde poderão usufruir de casas maiores e mais tranquilidade. Só que, como muitos têm a mesma ideia, o lugar acaba ficando mais barulhento e vêm os congestionamentos, dois dos fatores que mais deterioram a qualidade de vida.

Pesquisas mostram que a felicidade é, em larga medida, hereditária. Se você nasceu com um espírito jubiloso, parabéns. Se, por outro lado, tem um temperamento saturnino, é melhor acostumar-se com ele.

Eventos externos importam, mas de forma menos dramática e duradoura do que se imagina. Um bom exemplo é o de pessoas que sofrem acidentes que as deixam com deficiências físicas. Andrew Oswald avaliou o impacto dessas sequelas e concluiu que, num primeiro momento, elas reduzem bastante o grau de felicidade.

Mas, com o passar do tempo, este volta a elevar-se, até estacionar em níveis semelhantes aos verificados antes do acidente. É o que os psicólogos chamam de "adaptação hedônica".

Existem, porém, alguns fatores que se mostram resistentes à adaptação hedônica, isto é, aos quais não nos acostumamos, como se sabe por meio de mensurações dos hormônios de estresse. Enfrentar trânsito está nessa categoria. Ruídos, especialmente os intermitentes, também. Outros elementos pouco sensíveis à adaptação e que, por isso, conspiram contra a felicidade são a falta de controle sobre o ambiente e as relações conflituosas com familiares.

Isso nos lança no pior dos mundos. Nós nos acostumamos rapidamente ao espaço extra da casa nova, que deixa então de acrescentar felicidade, e passamos o resto de nossos dias penando no trânsito barulhento.

helio@uol.com.br

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