Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
12 de fevereiro de 2012 | N° 16977
VERISSIMO
As correntes corrompidas
A indolência da justiça daquele tempo já fazia as pessoas pensarem em suicídio
Na lista que faz de coisas das quais a morte o livraria, Hamlet inclui the laws delay, a demora da lei. A indolência da justiça daquele tempo já fazia as pessoas pensarem em suicídio, portanto não sejamos tão impacientes com a nossa.
Hamlet, na sua dúvida entre ser ou não ser, só não se mata de medo do que encontraria no país desconhecido da morte, do qual nenhum viajante jamais voltou. Prefere não trocar desgraças conhecidas por pavores novos.
Outro personagem da peça, o rei usurpador Claudius, também teme o que o espera do outro lado, mas por outra razão. Ele matou o irmão e ficou com as suas duas coroas – seu reino e sua viúva – e sabe que a justiça que certamente receberá no céu não é tão maleável quanto a da Terra. No solilóquio em que prevê a condenação da sua alma, Claudius lamenta que ela não terá o mesmo privilégio que ele tem em vida, e faz um resumo deste seu poder:
“Nas correntes corrompidas deste mundo
A mão cheia de ouro do ofensor compra a justiça
E muitas vezes é o produto da ofensa
Que a paga. Mas não é assim lá em cima.”
Para Claudius, no Além não tem arreglo. E a justiça não se corrompe.
Nem Hamlet nem Claudius duvidam que exista algo depois desta vida. Hamlet imagina a morte como um longo sono, e o que detém sua adaga é a perspectiva de que tudo que atormenta sua vida voltará a atormentá-lo em pesadelos intermináveis.
O que mais assusta Claudius na morte é a perspectiva de uma justiça rápida, e incorruptível, lá em cima. No fim é o solilóquio de Claudius, o seu ser ou não ser castigado depois da morte, sem recurso à propina e à sentença comprada, o mais relevante e atual dos dois. No Brasil dos juízes sob suspeita e por onde mais passam as correntes corrompidas deste mundo.
ESTE AMBIENTE
Dizem que existem gravações feitas no período em que se escolhia qual seriam as novas sete maravilhas do mundo que comprovam ter havido compra de votos e coação de eleitores, com alguém identificado apenas pelas iniciais CR ameaçando fazer greve caso não for o escolhido.
Trecho de um dos grampos:
– Diz aí pro pessoal que eu vou cruzar os braços. Eu vou cruzar os braços!
– Peralá, CR.
– Eu sou de pedra mas não sou de ferro...
– Por que você não pede a Deus para ser o escolhido?
– Não quero o Velho envolvido nisto. E não seria democrático. Prefiro o voto comprado.
– E como a gente explica a origem do dinheiro?
– Ué, eu não tenho um rebanho enorme? Pecuaristas e empresários milionários? E nota fiscal fria eu multiplico na hora.
– Pô, CR. Até você metido em maracutaia.
– Eu sei, eu sei. É este ambiente!
FUGA
Não quero ser alarmista, mas as abelhas estão dando o fora. Não sei se você já leu. Começou nos Estados Unidos, onde as abelhas estavam saindo das suas colmeias e não voltando.
Mas o fenômeno se repete no mundo todo. Ninguém sabe para onde vão as abelhas que não voltam. Não morrem, o que poderia ser atribuído aos agrotóxicos. Desaparecem. Se veículos espaciais estão vindo buscá-las (talvez os mesmos que as trouxeram), ainda não se viu nenhum.
As abelhas têm um apurado senso de orientação e poder de comunicação. Transmitem ao resto da colmeia as exatas coordenadas de um campo florido descoberto, através de uma dança.
Talvez os apicultores já estivessem notando há tempo notado uma mudança nos movimentos das danças, e não dado a devida importância. Talvez as abelhas já estivessem dançando pavanas para um mundo em agonia há algum tempo.
A verdade é que elas parecem saber algo que nós não sabemos.
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