Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
11 de fevereiro de 2012 | N° 16976
CLÁUDIA LAITANO
Juízo final
Não é a função mais glamourosa do jornalismo, mas talvez seja uma das mais relevantes. Entre as centenas de decisões editoriais que são tomadas todos os dias em um jornal, eventualmente inclui-se aquela de avaliar o espaço e o destaque que vai receber a notícia da morte de uma personalidade pública.
Quando a fama tem dimensão planetária, e as circunstâncias da morte são de alguma forma surpreendentes, como no caso de Lady Di, por exemplo, não há muito o que discutir. Nenhum jornalista do mundo teve dúvida sobre o tamanho dessa cobertura nos dias seguintes – embora em algum momento alguém talvez tenha parado para se perguntar se a atenção já não andava demasiada.
Como a maioria das pessoas não são Lady Di nem Steve Jobs, enfrenta-se com certa frequência na redação a necessidade de discutir a dimensão de uma determinada personalidade enquanto notícia fúnebre do dia seguinte.
Uma página? Duas? Caderno especial? É uma espécie de juízo final sem céu nem inferno, em que se julga não o mérito de uma vida, mas o impacto que ela teve (ou ainda terá) sobre outras vidas. Em certo sentido, tenta-se combinar a avaliação do presente com uma aposta no peso que a História dará a esse personagem.
No caso do jornalismo cultural, essas discussões podem se tornar bem complexas, uma vez que nem sempre talento ou relevância (que podem garantir um lugar na História) andam de mãos dadas com fama ou popularidade (que apontam para a relevância no presente).
O cantor de rádio que arrastava multidões ao delírio nos anos 40 pode vir a receber o mesmo espaço que o coadjuvante da novela das oito. Um filósofo alemão pode acabar dividindo a página do obituário com a bailarina que inventou a dança da garrafa. Na vida, como na morte, acasos e aproximações insólitas são mais a regra do que a exceção.
Às vezes, somos pegos de surpresa. Foi o caso, por exemplo, da comoção nacional que se seguiu à morte de Bussunda, um comediante famoso, mas que se revelou ainda mais querido pelo público do que se imaginava. Um fenômeno semelhante aconteceu esta semana com a morte de Wando, personagem quase cômico em seu romantismo caricato, mas que despertava simpatia mesmo em quem seria incapaz de ouvir uma música sua até o fim.
Assim como do médico espera-se que faça seu trabalho sem perder de vista a dimensão humana do paciente e a dor de sua família, o bom jornalismo é aquele que consegue dar à notícia de uma morte não apenas o indispensável tratamento factual, mas também a devida relevância subjetiva do personagem.
Quando morre um ídolo, um líder, um guru, o jornal (e agora também as redes sociais) é o espaço público onde a dor e a perplexidade são compartilhadas. Por trás da notícia de uma morte, qualquer morte, há sempre uma cerimônia de despedida coletiva, uma promessa de lembrança, uma homenagem. Um obituário, por mais curto que seja, sempre é solene.
Wando, a propósito, ganhou duas páginas.
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