quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012



15 de fevereiro de 2012 | N° 16980
CLAUDIA TAJES


Barulho para todos

Se tem coisa a que todo mundo tem direito, mesmo sem querer, é barulho. E por barulho entenda-se não os ruídos da cidade acordada, do Chevette escandaloso que precisa trocar as velas urgente, do nenê chorando, dos casais brigando, do aspirador de pó que funciona desde cedo no apartamento ao lado.

Barulho é diferente disso tudo, por mais que a trilha sonora do mundo, muitas vezes, seja irritante também. Barulho é quando o ouvido da gente vira o banheiro público dos outros.

Quem passa pela praia, sabe. De poucos em poucos metros, o pior das paradas de sucesso toca sem descanso na beira do mar. Ler, conversar, olhar a paisagem, tudo acontece com um funkeiro gritando ao fundo, um sertanejo jurando amor aos berros ou uma baiana tirando do chão quem só quer ficar sentado no próprio canto.

Na praia, a música ruim toca tanto em equipamentos particulares sob os guarda-sóis quanto nos alto-falantes dos quiosques e bares. Assim como a figura do DJ de ônibus começa a ser proibida, os DJs da orla bem poderiam levar uma enquadrada.

Ainda na praia, não dá para esquecer dos carros de som que anunciam shows e promoções. A quantidade deles diminuiu, mas os remanescentes seguem com o óleo queimando e o volume lá em cima. Bom era quando esses carros vendiam mariola e puxa-puxa, para a alegria das crianças e o pânico dos dentistas. Bailão e liquidação em plena sesta, ninguém merece.

Territórios, em tese, mais regulamentados que o litoral, as cidades também oferecem sua boa dose de barulho aos cidadãos. Destaque para as obras que se espalham pelos bairros, sinal de prosperidade, pelo menos. Nos fundos do meu prédio, agora mesmo, pedras sendo explodidas lembram o amanhecer em Homs.

Um comentarista de rádio, morador do Menino Deus, contou que não apenas está assistindo de camarote ao fim do Estádio dos Eucaliptos, está escutando também. E já há quem se arrepie com o barulho que a demolição do Olímpico Monumental vai trazer junto com a saudade.

Se a barulheira das construções obedece ao horário comercial, os demais barulhos da vida são do tipo 24 horas. Festas no apê. Os lamentos da gata no cio trancada na área de serviço. A aula de bateria. A televisão do insone atravessando paredes na madrugada. O avião que entra na sala. Barulhos que invadem a casa, estragam o humor, atrapalham a concentração.

E nem adianta fugir para o campo na tentativa de escapar deles. Para os ouvidos assombrados por anos e anos de decibéis em descontrole, os galos cantando terão o efeito de uma britadeira.

*Martha Medeiros está em férias e volta dia 22.

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