sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012



24 de fevereiro de 2012 | N° 16989
CLAUDIA TAJES


Para quem volta, para quem não foi

A migração deixaria as andorinhas espantadas. Assim como se foram tão logo o calor se combinou às férias, milhares de gaúchos voltam agora para as suas casas. Bem-vindos sejam. Nós, os que seguramos as pontas no verão mais suado das últimas décadas, estamos aqui, no ar-condicionado, para recebê-los.

É um movimento migratório curioso. Na pressa de abandonar a civilização, os gaúchos saem todos ao mesmo tempo, e param todos ali na estrada. Já o retorno se dá em horários mais espraiados, conforme o dia em que cada um precisa reassumir a antiga personalidade.

Novamente de terno, o chefe que você viu de sunga vermelha e sendo pacientemente enterrado na areia pelos filhos em breve perderá o ar relaxado. Na próxima bronca, não o recorde dessas amenidades. Para um chefe, sunga vermelha e paciência são coisas para cair no esquecimento, ao menos até as próximas férias.

Ainda sobre a migração de janeiro e fevereiro, outra particularidade: é fincar o pé em território urbano, que o gaúcho se dirige ao supermercado. Não existe a hipótese de chegar da praia sem passar pelo súper. Quem vinha comprando com tranquilidade por certo estranhará as longas filas e os carrinhos estourando nas caixas onde se lê “máximo de 10 itens”.

Então, quando você pensar que isso é chato, baterá com a cabeça nos ovos de Páscoa que surgiram do nada para lotar o espaço aéreo das lojas. Se tiver encontrado uma vaguinha para estacionar, bem entendido.

Feitas as contas, o verão 2012 termina com saldo positivo. O número de mortos em acidentes e afogamentos diminuiu. Porto Alegre está com a maior parte das calçadas recuperadas, exigência da prefeitura que contou com a compreensão dos cidadãos.

Também foi um verão em que não faltaram bons shows, filmes, espetáculos e programas para quem ficou torrando em temperaturas que não se deve chamar de senegalesas para não magoar o pobre do Senegal. Sem falar nos beijos dados, nos novos amigos, nas novas músicas, nos novos amores, nos amores que resistiram, nos bebês que vêm aí. Como nascem bebês depois de um verão.

Quem volta e quem sequer foi, finalmente todos estão na mesma.

Aos remos.

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