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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
28 de fevereiro de 2012 | N° 16993
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Vagas para paulistas
Desculpa chatear com assunto aborrecido mas, por indicação do meu amigo Flávio Azevedo, professor também, fui ler um texto de O Estado de São Paulo, de 9 de janeiro passado. O título: “O SISU e a mobilidade estudantil”. SISU é Sistema de Seleção Unificada, correlato do ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio, que se transformou, de modo abrupto e autoritário, no megavestibular do país.
Acontece assim: o sujeito presta as provas do ENEM e obtém uma certa nota; com ela, ele se inscreve no SISU para o curso que deseja, na universidade que pretende. Um mercado nacional que se movimenta então: se muitos pretendem a vaga, sobram uns quantos candidatos, que se inscreverão para outra vaga. E assim vai, por algumas rodadas.
O artigo do Estadão trazia uns números que o senhor precisa conhecer: 4 em cada 10 estudantes paulistas entram em universidade pública fora de São Paulo. Ano passado, 4.327 estudantes paulistas ingressaram em cursos superiores fora de seu Estado. E estes números tendem a crescer. Crescer, digo eu, avançando nas vagas que até agora eram preenchidas com gente de fora de São Paulo.
O senhor, como eu, não tem nada contra paulistas, certo? Nada. São gente tão sublime e tão ridícula quanto qualquer um de nós, de qualquer parte do planeta. Querendo chegar, chegue. Mas não é esse o ponto: o que está em causa é que São Paulo, que já concentra enormemente renda e população, agora também concentra essas vagas públicas.
O argumento simplista é que eles se saíram melhor que os outros brasileiros. Mas há muito mais aí: um país precisa pensar em suas diferenças, equilibrando a coisa, sem a ilusão de unificá-las apenas com a lógica do vencedor da hora.
Termino citando trecho final do texto do grande jornal paulistano: “Ao propiciar maior mobilidade dos estudantes universitários pelo País (...), a criação do vestibular unificado torna as universidades federais mais cosmopolitas.
Para privilegiar os estudantes locais e tentar evitar a invasão de vestibulandos de outros Estados, as universidades federais enfatizavam o regionalismo em seus processos seletivos. Elas exigiam, por exemplo, dados da história social, política e econômica do Estado em que estavam situadas e de escritores regionais.
A reforma do Enem acabou com esse expediente, democratizando o acesso à rede de universidades federais e pondo fim a um provincianismo pedagógico que prevaleceu durante décadas.”
Alhos e bugalhos entreverados, numa cantilena concentracionista de dar dó (em nós mesmos). Que tal?
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