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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
13 de fevereiro de 2012 | N° 16978
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Komlós, o homem
No momento em que a Sala Sinfônica da Ospa começa a ser realidade, é bom pensar no homem que deu origem a isso tudo. Húngaro, maestro, reuniu uma pequena formação de músicos recolhidos em bandas militares, nas orquestras de rádios, em casas noturnas e no Club Haydn, a que se somaram amadores talentosos e profissionais estrangeiros, nomeadamente do Uruguai.
A diversidade de competências era inevitável. Pablo Komlós, contudo, entendeu-a. Ele precisava extrair desse conjunto heterogêneo a necessária harmonia e transformá-lo numa verdadeira orquestra sinfônica. E o conseguiu.
Não era um homem comum. Era irascível e indomável, na igual medida em que era generoso, brilhante. Suas ações quase nunca passavam pelo crivo da censura e, por isso, transitava com rapidez meteórica de uma emoção a outra.
Poderia desconcertar os que o conheciam pouco; os músicos, entretanto, o entenderam em toda sua dimensão humana. Certa vez, ao saber que um contrabaixista passava fome, Komlós caiu em prantos e entregou sua carteira para que tirassem dali todo o dinheiro necessário.
Sua grande paixão era a ópera e os grandes espetáculos. A Abertura 1812, de Tchaikovsky, era sua peça predileta, com bimbalhar de sinos e troar de canhões. Então ele se transfigurava. Komlós tinha o sentido do cênico, e brincava com isso, como naquela ocasião em que deu início a uma valsa de Strauss e, voltando-se para a plateia, sentou-se e acendeu o charuto, enquanto a orquestra seguiu até o fim da obra.
Komlós vivia a música todos os minutos do dia. Atrapalhava-se com as coisas da vida prática e há várias histórias para exemplo. Dotado de um vocabulário original, fruto de seu périplo por vários países e idiomas, encantava seus ouvintes, deliciados com suas trocas de palavras.
Um dia, incentivando os músicos a deixarem de fumar, disse: “Vejam; eu mesmo já abandonei o... – pegou um charuto intocado do bolso e o mostrou, triunfante – ...o churrasco”.
Esses faits divers, no entanto, enganam: no início da década de 1970, a Ospa, sob seu comando, cresceu a ponto de tornar-se a melhor orquestra do Brasil. Grandes maestros regiam-na. Fez uma gira por todo o país e foi aplaudida pela crítica e pelo público.
Nada que não possa ser repetido, e para tanto estão trabalhando o Estado, o diretor artístico Thiago Flores, o presidente Ivo Nesralla, os administrativos, mas, principalmente, nossos competentes e dedicados músicos. Komlós aplaudirá.
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