sábado, 25 de fevereiro de 2012



26 de fevereiro de 2012 | N° 16991
VERISSIMO


O colchonete

– Você mandou me chamar, Dodo?

– Mandei, dona Berenice. Mandei. Por favor, sente-se.

– Algum problema?

– Não, não. Eu só achei que deveríamos conversar sobre o nosso encontro na terça-feira.

– No bloco “Engrena que eu acelero”? Não foi um barato? Acho que nunca me diverti tanto.

– Pois é, dona Berenice. Mas a senhora deve ter notado que eu estava, meio... Qual é a palavra?

– Chumbado?

– Embriagado.

– Você estava ótimo, Dodo! Alegre. Desinibido. É um lado seu que eu não conhecia. Aliás, que ninguém na firma conhecia.

– Você comentou o nosso encontro da terça aqui no escritório, dona Berenice?

– Só comentei. Não contei tudo o que aconteceu. É claro, né Dodo?

– Tudo o que aconteceu?

– Você não se lembra de nada? Do bar? Do fundo do bar? Do colchonete em cima dos engradados de cerveja no fundo do bar? Nada?

– Colchonete?!

- De tudo que nos dissemos e fizemos?

- Defina “tudo”, dona Berenice.

- Tudo! As confidências. As promessas. E o depois.

- O que houve depois?

- Digamos que o colchonete cumpriu seu papel.

- Meu Deus. Eu não sabia que tínhamos chegado ao colchonete.. Um colchonete em cima de engradados de cerveja. Isto não.

- Mas foi lindo, Dodo. Você era outro homem. Não parou nem quando entrou o português do bar e...

- O quê? Entrou um português na história?!

– Ele só foi buscar uma lata de azeite ou coisa parecida. E você não parou. O português entrou e saiu e você continuou. Vupt e vupt. Você, hein Dodo?

– Vupt e vupt. Meu Deus do céu. E as confidências e promessas, dona Berenice?

– O que tem elas?

– Você sabe que um homem bêbado em cima de um colchonete diz qualquer bobagem. O colchonete está na fronteira entre o recato e a exposição total, à autopiedade e ao ridículo. Um homem num colchonete perde todo o escrúpulo e confessa tudo, até o que não fez. E promete o que não pode dar.

– Não se preocupe, Dodo. As confidências eu esqueci, e as promessas eu não levei a sério. Nem a promessa de casamento. Eu sabia que não eram para valer. Afinal...

– O que, dona Berenice?

– Era Carnaval.

– Obrigado, dona Berenice. Obrigado. Pela sua compreensão e pela sua discrição. Vamos fingir que nada aconteceu, e tudo volta ao normal. Inclusive, dona Berenice, vou lhe pedir um favor...

- O quê?

- Volte a me chamar de Dr. Odorico.

Nenhum comentário: