19 de fevereiro de 2012 | N° 16984
PAULO SANT’ANA
Reflexões insones
A vida, para os que sofrem, é implacável. No entanto, para os que são felizes, a vida é perdulária.
A vida é curta para os velhos e interminável para os que gozam da juventude.
A vida é um Éden para as crianças e a morte é uma ameaça feroz para os idosos.
A vida oferece em demasia pessoas bem-sucedidas e belas para os invejosos.
A vida é benévola para os que confiam e insistentemente adversa para os céticos.
A vida é um paraíso para os trapaceiros e muito íngreme para os íntegros.
Aos fortes, a vida oferta tentações, aos fracos abismos.
A vida dá prêmios aos insistentes e desconsolo para os que desistem.
Aos sábios, a vida é dadivosa em esclarecimentos. Aos néscios, a vida é farta em enigmas.
A vida não se cansa em tentar acalmar os brutos e recompensar os mansos.
Aos ricos, a vida oferece mais oportunidades ainda. Aos pobres, a vida tira-lhes cada vez mais as chances.
A vida ilumina os brilhantes e ensombrece os vulgares.
A morte é filha da vida. A mãe da vida é a eternidade.
A vida muitas vezes é magnânima com os corruptos e cruel com os honestos.
Para os ateus, o fim da vida é o nada. Para os espíritas, o fim da vida é o recomeço.
A vida idealizou para os pitbulls a esterilização. Para os dálmatas, a propagação.
A vida encheu de orgulho o Grêmio e o Internacional, dando a cada um deles um título mundial.
A vida enche de desespero os dois pela hipótese de que o rival venha um dia a obter o segundo título mundial.
Aos ociosos, a vida presenteou com a preguiça. Aos produtivos, a vida presenteou com o dormir cedo e o despertar cedo.
Ao mesmo tempo em que a vida concedeu ao homem a admiração por outro homem, impôs-lhe junto a tentação da inveja.
A vida sugere ao juiz a missão mais difícil sobre a Terra: que ele seja ao mesmo tempo severo e misericordioso.
A vida se orgulha dos homens que se tornam necessários em seu meio social, mas se orgulha mais ainda dos que se tornam imprescindíveis.
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