segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012



20 de fevereiro de 2012 | N° 16985
EDITORIAIS ZH


QUEIMA DE JORNAIS

Um presidente autoritário e uma Suprema Corte submissa fizeram o Equador ingressar na semana passada no grupo de países latino-americanos que reprimem a liberdade de imprensa e, assim, fragilizam a democracia. Da mesma maneira como Cuba, desde que a família Castro assumiu o poder, e à semelhança de Venezuela, Bolívia e Argentina, mais recentemente, também o Equador opta pela tirania do populismo repressivo, que não admite questionamentos aos governantes de plantão.

É o que está acontecendo com o senhor Rafael Correa, que processou e conseguiu a condenação de três diretores e um articulista do diário El Universo, por críticas ao seu governo. Além da prisão dos profissionais, a sentença exige que o jornal pague uma indenização por dano moral no valor de US$ 40 milhões – o que pode levar a publicação à falência.

O episódio equatoriano teve conotações inquisitoriais. Para pressionar um tribunal que já tem seus membros indicados por ele, Rafael Correa convocou seus partidários para uma manifestação diante da Corte. O julgamento durou 15 horas e deixou como imagem mais forte a queima de jornais em frente ao tribunal, promovida pelos simpatizantes do presidente.

Na Idade Média ou agora, não difere muito o processo que culmina com as liberdades individuais numa fogueira: intolerância a críticas, tentativa de controle oficial dos meios de comunicação (a censura explícita do passado e, agora, mecanismos disfarçados como os Conselhos de Comunicação), pressão publicitária, ameaças e repressão explícita. O objetivo dos governantes arrogantes e dos ditadores é indisfarçável: calar as vozes que os incomodam.

Cabe observar que nas democracias consolidadas ocorre o contrário, como recentemente se viu na renúncia do presidente da Alemanha, por ter ameaçado um jornal que publicou notícia desabonatória a sua imagem. Por coincidência, no dia seguinte ao simulacro de julgamento no Equador, o presidente alemão Christian Wulff renunciou ao cargo por causa de um escândalo de favorecimento político que há meses abalava seu governo.

No auge da crise, Wulff ligou para o diretor do jornal Bild, fazendo ameaças e tentando impedir a publicação de uma reportagem sobre um empréstimo de 500 mil euros que ele recebeu para comprar uma casa. Mais tarde, o dirigente político reconheceu seu erro e pediu desculpas ao jornal, mas a opinião pública não perdoou a investida contra a liberdade de expressão.

Infelizmente, a censura se mantém na agenda do populismo autoritário em alguns países da América do Sul. Seus representantes não admitem críticas, considerando-as sempre maquinações golpistas ou articulações motivadas por interesses econômicos.

Tentam, por todos os meios, controlar a imprensa independente, como se a liberdade de expressão fosse um privilégio de jornalistas e veículos de comunicação, quando na verdade é uma prerrogativa inalienável dos cidadãos. Equivocam-se: quem queima jornais acaba iluminando ainda mais as ideias libertárias.

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