quinta-feira, 11 de dezembro de 2008



11 de dezembro de 2008
N° 15816 - LETICIA WIERZCHOWSKI


A raiz do problema

Escrevi uma crônica sobre a violência que abala as nossas cidades, e choveram e-mails na minha caixa de mensagem. Muita gente convidou-me a sair às ruas pedindo segurança. Porém, eu acho que devemos sair às ruas é para pedir escolas. Para pedir professores. Devemos exigir penas mais duras, presídios maiores e bem administrados, leis mais severas. Mas, acima de tudo, devemos exigir educação para todos.

Temos aí um enorme contingente de crianças à mercê da sociedade. Crianças que vivem das sobras da nossa vida, sem um lar, sem uma cama limpa, sem um caderno onde escrever as primeiras letras – um caderno onde irão começar a desvendar o mundo e também a fazer parte dele. Essas crianças crescerão sem jamais compreender o significado de uma vida amada e digna.

Como, então, elas podem agir como nós? Equações diversas geram resultados diferentes. Um jovem que cresceu na rua, pedindo esmola aos que andam de carro, com suas boas roupas, suas mesas fartas – o que será que esse jovem sente por nós a não ser, talvez, desprezo e ódio?

Dia desses, vi um grupo de meninos destruindo um telefone público. A princípio, fiquei chocada. Depois pensei: o que esse telefone significa para eles? Liga pra mamãe se tiver algum problema. Callcenter do Visa. Eu queria marcar uma hora com o doutor fulano.

Alô, auto-socorro, o motor do meu carro pifou. Aqueles três meninos descalços numa manhã de inverno nunca tiveram alguém a quem chamar num caso de necessidade, nem nunca alguém jamais chamará por eles. Aquelas crianças não destruíam um telefone público, destruíam um mundo ao qual jamais foram convidados a entrar.

E, sem pessimismo nenhum, depois daquele telefone, aqueles meninos devem ter destruído muita coisa por aí. Carros, vitrines, vidas.

Todos sabemos que a desigualdade social é a origem de tudo. Enquanto houver gente passando fome e vivendo sem um teto, enquanto essa legião de crianças mendigas seguir trilhando as nossas ruas, a coisa não vai melhorar.

Aumentar o contingente policial é preciso, mas diminuir a desigualdade e acabar com a pobreza extrema é urgente. Então vamos sair às ruas sim, pessoal, vamos puxar governadores e prefeitos e deputados pelo pé, mas para exigir que o diabo-a-quatro de impostos que pagamos todo santo dia até mesmo em cada pão francês comprado na padaria da esquina ajude na saúde e na educação do nosso povo.

Para que um dia os telefones públicos sejam apenas meios de comunicação, e não símbolos odiados de uma vida diariamente negada a tantos por aí.

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