Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
03 de dezembro de 2008
N° 15808 - DAVID COIMBRA
A frase de Leonardo Astrada
Havia aqui no jornal um repórter chamado John Lennon. Apelidado, digo. Não era parecido com o John Lennon da Yoko, nem cantava, que eu soubesse. Mesmo assim, todos o chamavam de John Lennon por alguma razão. O Professor Ruy, de Djamm Lennammm.
John Lennon gostava muito de futebol. Um dos seus ídolos era Alfinete, que militou na lateral-direita do Grêmio nos anos 80. Curioso: foi a única pessoa que conheci que teve Alfinete como ídolo.
O John Lennon, de fato, nunca foi um sujeito convencional. Consagrou-se no Esporte da Zero como o autor de um dos lides imortais da história do jornal.
Lide, você sabe, é a primeira frase de um texto jornalístico, normalmente a mais importante, a que vai chamar a atenção do leitor para o resto da matéria. Esse lide do John Lennon ele o escreveu a respeito da situação do São José no Gauchão:
“As galinhas ciscavam pelo Estádio do Passo d´Areia, ontem pela manhã, sem se preocupar com a colocação do Zequinha no campeonato”.
As galinhas confiantes do Passo d´Areia tornaram-se célebres na Redação, e ainda hoje volta e meia há quem lembre delas.
Outro grande lide foi escrito pelo repórter Gilberto Jasper, então na Editoria de Geral. Ele foi fazer uma reportagem sobre apicultura e tascou:
“A abelha não faz mal. Faz mel”.
Geniel. Ops, genial.
Mas continuando com o nosso John Lennon. Quando o Grêmio contratou Leonardo Astrada do River Plate, ele foi designado para ir ao aeroporto a fim de colher a primeira entrevista do jogador. John Lennon adorava o futebol argentino, por isso saiu entusiasmado para fazer a matéria. Voltou mais entusiasmado ainda.
– Cara, tem que ver a primeira frase que o Astrada disse! – vibrou o John assim que chegou à Redação.
– O que ele disse, John? – perguntamos.
– A primeira frase, cara! A primeira em solo brasileiro! A primeiríssima!
– O que foi? O que foi?
Lembrei logo da primeira frase que Oberdan proferiu ao pisar no saguão do Salgado Filho em 1977:
– O Escurinho nunca mais vai cabecear na área do Grêmio!
Que frase! O homem chegou apresentando as credenciais. Astrada, argentino com alguma ilustração, devia ter dito algo do mesmo jaez. Assim, insistíamos:
– O que ele disse? O quê? O que, John???
E o John Lennon, empostando a voz:
– Ele chegou ao saguão. Olhou para mim. E falou: “Hola, que tal?” Não é uma maravilha? “Hola, que tal?” Sen-sa-cio-nal! Vou abrir minha matéria com isso. Hola, que tal...
Desta forma construiu-se mais um lide imortal.
Esse Leonardo Astrada, que ora retorna a Porto Alegre como técnico do Estudiantes, chegou à cidade trazendo no currículo vasto prestígio. Era chamado de El Jefe no River Plate. Lembro dele apresentando-se no Olímpico com a barba de três dias, os dedos dos pés emergindo sandálias afora e um olhar blasé de quem já tinha feito de tudo na vida. El Jefe.
Os gremistas queriam que ele chefiasse um time milionário, bancado pela ISL, onde despontariam Ronaldinho, Scheidt, Roger, entre outros. Foi uma decepção. El Jefe não chefiou nada, foi defenestrado para a reserva e, depois de várias tentativas malsucedidas, mandado de volta para a Argentina.
Estava curioso para ver Astrada como técnico, já que sua trajetória de jogador cheio de personalidade indicava que seria um bom comandante de vestiário.
No primeiro jogo contra o Inter, decepcionei-me de novo. Astrada fez seu time passar a noite inteira levantando a bola para a área do inimigo, um doce para o goleiro e os zagueiros adversários.
Verón, o maior astro do Estudiantes, esse então surpreendeu pela ingenuidade. Pegava a bola, levantava a cabeça e atirava-a na pequena área. Um jogador experiente, que já integrou a seleção argentina, não conseguiu flagrar-se do que acontecia no jogo.
Lógico, o Inter é bem melhor do que o Estudiantes, suponho que ganharia a partida de qualquer forma, mas a falta de perspicácia dos argentinos foi escandalosa.
Duvido que haja algo que Astrada ou Verón ou quem quer que seja do Estudiantes possa fazer nesta quarta-feira contra o futebol superior do Inter. Alex, D´Alessandro e Nilmar, sobretudo Nilmar, formam um tripé de ataque talvez único no Brasil.
Verdade que futebol, às vezes, é implausível. Mas ainda é mais verdade que só às vezes.
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