terça-feira, 2 de dezembro de 2008



02 de dezembro de 2008
N° 15807 - MOACYR SCLIAR


O lado bom

Não é de admirar que Deus tenha recorrido ao dilúvio para castigar o mundo. Inundação é catástrofe, como até mesmo a chuva de ontem em Porto Alegre mostrou. Mas mesmo as catástrofes, como a de Santa Catarina, têm alguma coisa de positivo.

Para começar, a cobertura da mídia foi sóbria, mostrando cenas impressionantes, mas sem sensacionalismo, e despertando a consciência dos brasileiros para o problema. O resultado foi um notável movimento de solidariedade, com pessoas se voluntarizando para ajudar e fazendo donativos.

Um outro, e positivo, aspecto resulta da comparação com a tragédia do furacão Katrina, que, em 2005, atingiu com especial violência a cidade de New Orleans. Mais de 1 milhão de pessoas tiveram de ser evacuadas; os mortos chegaram a 1,3 mil. E, neste caso, tivemos um fiasco político.

George Bush mostrou mais uma vez sua incompetência. Numa região em que os furacões são freqüentes, o Katrina era uma tragédia anunciada, a respeito da qual Bush foi repetidamente, e até desesperadamente, avisado, sem tomar posição alguma (numa entrevista na véspera, sequer respondeu a perguntas a respeito).

Estava em viagem e, de fato, na manhã em que o Katrina varreu a cidade, uma foto mostrava-o em San Diego, tocando guitarra (o que lembra o imperador Nero dedilhando sua harpa enquanto Roma se incendiava). Só dias depois, o presidente foi a New Orleans.

A ajuda foi tardia e pequena, levantando a suspeita de que a população de New Orleans, em grande parte pobre e negra, não chegava a motivar a presidência americana. Agora: o George Bush que, em uniforme militar, e em postura altaneira, anunciou, do convés de um porta-aviões que a guerra contra o Iraque estava ganha, este sim, parecia motivado, e muito motivado.

Que coisas semelhantes não tenham aqui acontecido é um sinal da maturidade brasileira. Não vimos, por exemplo, aquela tradicional briga entre níveis de governo, autoridades municipais tentando passar a batata quente para o governo estadual e este botando a culpa na administração federal. Estava todo mundo junto, todo mundo – e esta imagem infelizmente é muito adequada – no mesmo barco.

O texto que aqui publiquei, na semana passada, sobre o suposto imperialismo brasileiro, suscitou vários, e brilhantes, comentários. Para começar, veio um e-mail do correspondente da revista Newsweek (ZH chega longe), Mac Margolis, autor do artigo sobre o suposto imperialismo brasileiro, que aqui comentei.

Aliás, devo uma desculpa ao Margolis. Da maneira como escrevi, dava a impressão de que ele endossava a expressão. De jeito nenhum, Margolis é muito crítico em relação a isso.

Também me escreveram o Prof. Duilio de Avila Bêrni, com uma lúcida análise, a Maria Morales H. Dias (“Não há um imperialismo brasileiro, mas pode-se falar num imperialismo à brasileira”), o Ivan Sanchez Bornes (“Hoje vemos o Brasil ‘colonizar’ outros países exportando multinacionais”), e o jornalista Ib Kern, lembrando que a questão é bem antiga, da década de 70:

“Da malograda Transamazônica, dizia-se ter como objetivo invadir o Equador, caso a crise petrolífera de então deixasse o Brasil sem combustível”.

Registro também as mensagens, sobre outros temas, de José Diogo Cyrillo da Silva, de Luciano Sheikk, de Marino Boeira, de Romeu Finato (que, adequadamente coloca junto ao nome, a ressalva “o vivo”), do dr. Fernando Luiz Brauner, e da enfermeira Suzane Silva.

O Jorge Ritter transcreve uma notícia do New York Times falando sobre um pequeno jornal da California que mandou embora seus colaboradores contratando, por salários bem inferiores, jornalistas hindus (isso mesmo, hindus) que escrevem desde a Índia coletando informações locais por e-mail e celular. Realmente, o mundo ficou globalizado, demasiadamente globalizado.

A professora. Maria Tereza Amodeo (PUCRS) gostou da crônica sobre a Era do Ego (Donna) e o jornalista Sérgio Dillemburg lembra os 90 anos da gripe espanhola de 1918 aqui no RS (vacinem-se, amigos).

Por último, uma homenagem a Olga Reverbel, pioneira do teatro infantil no RS e grande pessoa, ontem falecida e que deixou muitos, e bons, amigos.

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