terça-feira, 11 de janeiro de 2022


11 DE JANEIRO DE 2022
DIÁRIOS DO MUNDO

E se a Ômicron for o início do fim?

Se olharmos a metade do copo vazia, há várias notícias ruins: a variante Ômicron voltou a sobrecarregar hospitais na Europa e nos Estados Unidos; as redes de Espanha e Itália se encontram em situação cada vez mais desesperadoras, e o Reino Unido colocou suas principais companhias privadas de saúde em alerta máximo.

Sendo assim, é difícil olhar para a metade cheia do copo, principalmente no momento em que o Brasil e o Rio Grande do Sul começam a experimentar números de infectados crescendo exponencialmente. Mas, exaustos após dois anos de pandemia, é importante nos apegarmos a sinais de boas notícias, que, desta vez, vêm com o aval de renomados cientistas.

A variante descoberta em novembro na África do Sul nos permite olhar o mundo, agora, como um laboratório vivo a comprovar a eficácia das vacinas. No campo de testes da humanidade, a Ômicron comprova que os imunizantes no mercado reduziram o número de casos graves e óbitos. Quem está mais vulnerável é quem não se vacinou. Segundo a OMS, esse público representa de 80% a 90% dos pacientes graves e óbitos.

Não são poucos os cientistas que começam a antever na Ômicron o início do fim da pandemia - ou uma projeção do chamado "novo normal", um futuro em que a covid-19 não será erradicada, mas no qual conviveremos com o vírus em situações endêmicas - e não pandêmica ou epidêmica.

Um desses nomes é David Spiegelhalter, diretor do Winston Centre for Risk and Evidence Communication, da Univerdade de Cambridge.

- Certamente, não veremos um grande aumento nas admissões e mortes em UTIs - disse.

Ainda que com toda a cautela do mundo, o epidemiologista brasileiro Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), é outro pesquisador que tem encontrado bons sinais de que a Ômicron pegou a humanidade muito melhor protegida - graças à vacina - e que, por isso, é possível vislumbrar o "lado bom" da cepa.

- Estamos falando de uma contaminação muito rápida, sem gravidade tão grande e isso é uma característica que pode fazer com que essa doença passe a conviver entre nós assim como outras - disse à Folha de S.Paulo.

Zvika Granot, da Universidade Hebraica de Jerusalém, tem repetido esse posicionamento. À rede CNN, disse que, a se considerar pandemias anteriores, como a gripe espanhola, elas passaram por ondas muito similares a que estamos vivendo com a Ômicron, mais infecciosas, porém menos agressivas.

Outro pesquisador, Mike Tildesley, da Universidade de Warwick, disse ao The Guardian:

- A longo prazo, a covid-19 se tornaria endêmica, com uma versão menos severa, muito semelhante ao resfriado comum com o qual vivemos por muitos anos. Ainda não chegamos lá, mas possivelmente a Ômicron é o primeiro indício que sugere que isso pode acontecer.

Essa sensação fez com que a Associação Médica Americana publicasse um artigo sugerindo ao governo dos Estados Unidos um novo comportamento, que preveja um estado de "conviver com o vírus" - abordagem que administrações como as de Austrália e Nova Zelândia já estão adotando, em oposição à ideia de "covid zero". Segundo essa perspectiva, seria necessário reforço em três estágios: prevenção, com imunização de 90% da população (por vacinação ou infecção prévia), com obrigatoriedade da vacina para entrar em ambientes como trabalho e escola, ao lado de medidas como uso de máscaras em ambientes fechados; diagnóstico ágil e preciso, com testes abrangentes e baratos, além de informação de novos casos em um sistema centralizado; e tratamento, que inclui a contínua busca por novas drogas que combatam o vírus, que serão distribuídas por meio de sistemas públicos, além de monitoramento genômico para possíveis novas variantes.

RODRIGO LOPES

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