18 DE JANEIRO DE 2022
LARISSA ROSO
O ano que não termina
Alguém há de comprovar que 2020 ainda não acabou. Estão aí, em janeiro de 2022, as notícias que parecem copiadas de outros momentos do primeiro ano da pandemia e a farta coleção de memes que tentam, pelo menos, fazer graça da nossa incredulidade. Mudou a protagonista - agora é a variante Ômicron -, mas o enredo segue semelhante ao das temporadas anteriores.
Semana passada, nesta eterna cobertura dos estragos do coronavírus, fiz mais uma reportagem (já perdi a conta de quantas foram) sobre a importância do uso correto das máscaras, ressaltando que devem ser bem ajustadas sobre o nariz e a boca. Não adianta colocar no pescoço. Aí, ó: mais um indício de que continuamos em 2020.
Essa sensação de eterno retorno tem sido um desafio para a memória. Sempre gostei de agendas, hábito que ainda não migrou para o ambiente virtual. Admiro quem consegue se organizar com calendários online que disparam lembretes, mas a minha agenda continua no formato da primeira, lá da longínqua época de guria: é de papel.
Costumava anotar o que saía da rotina para não correr riscos: consultas médicas, reuniões, o horário exato de uma entrevista. Com o avançar dos meses (e anos!) de covid-19, dias e semanas foram se fundindo numa mistura indistinta. Perdi as referências temporais para uma porção enorme de episódios. Deve ser culpa da cabeça bombardeada com tanta coisa, simultaneamente, em meio a essa loucura.
Sempre gostei de listas, que organizam o dia e permitem o indescritível prazer de riscar cada tarefa concluída. Mas agora me pego anotando trivialidades (comprar água, tomar o remédio) que antes acionavam um alerta automático. Até os compromissos que se repetem toda semana, no mesmo dia e horário, estão sempre na agenda. A desconfiança de mim mesma é tanta que às vezes acrescento um "não esquecer!!!" ao lado. Vai que esqueço?
Tinha certeza de que a data da minha dose de reforço era 6 de janeiro. Nem seria necessário o apontamento. A convicção se esvaiu quando resolvi checar a carteirinha mais uma vez, antes de sair de casa: ainda faltavam oito dias.
Com atraso e pouquíssimas doses, o Brasil começou a aplicar a vacina da Pfizer contra a covid-19 no grupo de cinco a 11 anos. O Rio Grande do Sul dá início a esta etapa amanhã. Não tenho a pretensão de convencer quem, infelizmente, agarrou-se a negacionismo, teorias estapafúrdias, palpites furados, maledicências de redes sociais, contorcionismos do conceito de liberdade. Faço um apelo a quem ainda hesita e tem dúvidas sinceras sobre a imunização infantil: vacinem seus filhos. Que autoridade eu tenho para pedir isso? Meu papel, como repórter, é apurar e transmitir informações. Todos os méritos e garantias são da ciência, e que bom ter a certeza de que estamos muito bem acompanhados. Sigam os bons. Não esqueçam.
*O colunista David Coimbra está em férias
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