17 DE JANEIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
PROTEÇÃO ÀS CRIANÇAS
Num ambiente conturbado pela maior crise sanitária da história da humanidade e pelo negacionismo à ciência por algumas autoridades políticas e seus seguidores, o Brasil começou a vacinar no final de semana crianças da faixa etária entre cinco e 11 anos. O procedimento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já adotado em outros países tem como objetivo prioritário a proteção de meninas e meninos que, embora possuam maior resistência ao vírus da covid-19, também são vulneráveis à infecção e se mantêm transmissores mesmo quando assintomáticos.
A principal justificativa da vacinação para o público infantil é, sem dúvidas, a preservação de vidas. De acordo com o Portal da Transparência de Registro Civil, o Brasil já contabilizava até a última sexta-feira 324 óbitos de crianças entre cinco e 11 anos em decorrência da pandemia. Infelizmente, ao contrário do que sugerem pessoas mal-informadas e nem sempre bem-intencionadas, a infância não está imune à letalidade causada pelo vírus.
Embora tenha sido autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro, o processo de vacinação infantil acabou sendo retardado por resistência de autoridades federais submissas à posição intransigente do presidente da República sobre o assunto. Em vez de executar a recomendação da Anvisa e da ciência médica com a celeridade esperada, como fizeram governantes de países da Europa e dos Estados Unidos, o Ministério da Saúde resolveu promover uma consulta pública para avaliar se a população era favorável à medida. Em paralelo, chegou a sugerir a obrigatoriedade de receita médica e de autorização formal dos pais para a aplicação da vacina, somente recuando dessas medidas desnecessárias depois de manifestações críticas do Congresso, do Judiciário e da opinião pública.
Mesmo com essa explícita e inexplicável torcida contra, o governo sentiu-se tão pressionado que acabou adquirindo as doses de imunizantes recomendadas para o início da vacinação de crianças, conforme calendário já em execução. O certo, porém, é que o atraso forjado pela insensatez determinará o retorno às aulas de crianças ainda não vacinadas ou com imunização incompleta - o que também traz insegurança e riscos reais para os adultos que interagem com elas nas atividades escolares.
Vacinar crianças é sempre doloroso, pois nem todos os pequenos entendem o motivo do sacrifício momentâneo da injeção e os pais sempre sofrem junto. Mas a imunização pediátrica de doenças fatais ou incapacitantes como a poliomielite comprova de forma inquestionável a validade do procedimento. A paralisia infantil, enfermidade ainda endêmica em algumas nações menos desenvolvidas, está erradicada no Brasil graças à intensificação da vacinação na década de 90.
Ainda que o vírus causador da atual pandemia continue resistente e surpreendendo com as suas mutações, a vacina é reconhecida como único antídoto comprovado para prevenir mortes e efeitos permanentes da doença por ele gerada. Então, não pode haver hesitação: as crianças brasileiras têm direito a essa proteção, mesmo que seja preciso enfrentar o obscurantismo e a teimosia de algumas lideranças políticas.
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