sábado, 15 de janeiro de 2022


15 DE JANEIRO DE 2022
A ROTA DA ESTIAGEM

"Está tudo morrendo"

A estiagem retirou Camila Faustino da Silva da rotina no campo. Nascida e criada em Barra do Braga, localidade a 18 quilômetros de Frederico Westphalen, Camila passou a vida inteira lidando no tambo e nas lavouras da família. Agora, aos 32 anos, pela primeira vez vai trabalhar fora, na tentativa de amenizar a queda na renda.

- Vou ser agente de saúde. Já comecei o treinamento e logo estarei atuando. Não tem outro jeito. É desesperador, está muito caro para plantar, a gente não sabe se vai colher nem se vai ter dinheiro para pagar as contas - lamenta Camila, sob um calor de 37oC às 10h.

No inverno, as 52 vacas da agricultora produziam, em média, 9 mil litros de leite por mês. No verão mais perverso dos últimos três anos, a média caiu para 4 mil litros mensais. Com as pastagens queimadas pelo sol, o gado come menos, perde peso e reduz os índices de prenhez, numa espiral de prejuízos.

No início de janeiro, o marido de Camila, Jaime Vedovato, aproveitou dois dias seguidos de chuva, uma raridade na região, e plantou milho em 2,5 hectares. Os 50 milímetros que caíram do céu fizeram as plantas germinarem, mas foram insuficientes para o resto.

- Está tudo morrendo - diz Vedovato.

A água que falta no pasto é escassa também na casa. Camila e cinco vizinhos são abastecidos por uma caixa d?água de 10 mil litros. A reposição é feita toda quarta-feira pela prefeitura, mas desde o final do ano passado a água dura só quatro dias.

- Busco água na minha mãe aqui perto - conta Camila.

Emendando uma estiagem na outra há três anos, Frederico Westphalen convive com ameaça de racionamento. A rede de água da cidade e dos municípios vizinhos de Vicente Dutra e Caiçara era mantida pelo Rio Pardo, mas não há mais vazão suficiente. Desde o ano passado a Corsan puxa água do Rio Fortaleza, em Seberi. E 300 famílias de 16 localidades precisam de assistência semanal de caminhões-pipa. São 110 cargas por mês, com total de um milhão de litros. Além disso, três escavadeiras percorrem o interior cavando açudes.

- Meu telefone não para de tanto pedido que recebo - diz o secretário municipal de Agricultura, Gildo Busatto. 

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