sexta-feira, 21 de janeiro de 2022


O Palácio de Papel (Editora Intrínseca, 400 páginas, R$ 64,90) é o denso romance que marca a estreia literária de Miranda Cowley Heller, que cresceu em Nova York, formou-se em Harvard e trabalhou como editora e como vice-presidente e coordenadora de núcleo de séries da HBO. Ela vive hoje entre Cape Cod, Los Angeles e Londres.

A requintada e densa narrativa inicia em uma manhã perfeita das férias de verão, na propriedade construída em Cape Cod pelo avô de Elle Bishop. Elle, com certo saudosismo, lembra de cada detalhe do lugar.
A mesa de jantar da noite anterior - quando ela transou com o amigo de infância na escuridão do jardim enquanto seus cônjuges conversavam na sala - ainda está posta.
Vamos acompanhar várias fases da vida de Elle, desde a infância, acompanhada da irmã Anna, dona de uma língua ferina. O divórcio dos pais e seus novos relacionamentos disfuncionais e abusivos e a chegada de Jonas, o menino mais novo e que será seu melhor amigo e cúmplice estão no relato profundo e bem estruturado que mostra uma estreia muito madura da escritora.
O encontro dramático com Peter, o inglês charmoso e sarcástico que se tornará seu marido e os tormentos na relação com o meio-irmão Conrad, ao lado das lembranças com os pais e avôs, tornarão muito intensas aquelas 24 horas.
Nessa história sobre o verão, segredos, amor e mentiras, ao longo de um dia, uma mulher precisa fazer uma escolha extrema após décadas de ebulição. Sentimentos humanos e a complexidade das relações amorosas, da luxúria e do medo estão na envolvente narrativa.
 Lançamentos
Amor e guerra em Canudos (Editora Yellowfante, 224 páginas, R$ 41,80), do premiado e consagrado jornalista e escritor gaúcho Lourenço Cazarré, com ilustrações de Christiane Costa, nasceu de várias leituras do autor do clássico Os Sertões de Euclides da Cunha.
A Uruguaia (Todavia, 128 páginas, R$ 38,00), do premiado escritor argentino Pedro Mairal, romance que ganhou o Tigre Juan de melhor narrativa de 2017, fala de afetos, crise conjugal, autoengano e busca pela felicidade. O livro sairá em dezenas de idiomas e será filmado.
Cinema Da Letra à Tela (Artes e Ofícios, 288 páginas, R$ 67,00), do professor-doutor Marcelo Bulhões, autor de vários livros sobre cinema e literatura, fala com profundidade sobre adaptação literária, cinema e televisão. Leitura para profissionais e leitores em geral.
 O que é a verdade?
Nesta época em que as fake news estão vendendo mais do que pastel em dia de carreira, não custa nada e é importante pensar e falar um pouco sobre essas tais inverdades. A pergunta de Pilatos para Jesus Cristo: Que é a verdade? segue no ar, nesses dois mil anos, mesmo com os esforços dos filósofos gregos e demais sucessores. Muitos aí nesse nosso mundinho pós-moderno negam que a verdade /possa ser conhecida.
Uns dizem que a verdade não é simplesmente algo que funcione, que seja coerente e compreensível ou que faça as pessoas se sentirem bem. Outros mais dizem que a verdade não é o que a maioria diz ser verdade, que não é o que é abrangente, que uma mentira acreditada não é verdade e que a verdade não é só o que se provou publicamente, necessitando ela de crença particular. A palavra grega para verdade, alétheia, significa des-esconder e a hebraica, "emeth" significa firmeza.
Os filósofos pensam que a verdade é o que corresponde à realidade, o que corresponde ao seu objeto e simplesmente dizer como realmente é.
A coisa, como se vê, é complicada e não é fácil. Em suas memórias o grande jornalista Carl Bernstein, um dos que foi responsável pelo celebrado caso Watergate, que incriminou o presidente norte-americano Richard Nixon, escreveu que o bom jornalismo deve apresentar a melhor versão da realidade.
Já nosso imortal do povo e grande perda da Academia Mario Quintana disse que a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer. Poetas são as antenas da raça, sempre enxergam mais. Nesse planeta onde a mídia, as academias, as artes e as ciências e todo mundo anda aí falando muita coisa, muito rápido, a coisa se complicou ainda mais.
Dados econômicos variados, vacinas feitas com muita rapidez, informações divergentes, normas científicas alteradas ou desrespeitadas e tudo mais nos deixam atordoados, confusos, sem saber em quem ou no quê acreditar. O bom senso, a experiência dos mais velhos, as vozes da natureza, as boas lições de história e algumas fontes eletrônicas mais ou menos confiáveis ajudam um pouco a enfrentar tantas palavras, sons, gestos, opiniões e informações de todo tipo. Por vezes quem sabe mais e é mais confiável é o silêncio ou o rugido do mar.
A nova importância dada à filosofia e sua inclusão em muitos currículos escolares é uma ótima ajuda para as pessoas tentarem lidar com os volumes de informação e de tecnologia que andam avassaladores. A filosofia nos ajuda com a busca da verdade, das verdades ou de alguma verdade. O excesso de informação somado a essas doses industriais de fake news realmente nos deixam chocados com o presente e não apenas chocados com o futuro, como no livro clássico de Alvin Toffler, O Choque do Futuro, publicado no longínquo 1970. Não por acaso técnicos em segurança de informação andam em alta.

a propósito...

Acho que algo que o que a gente deve continuar fazendo, antes de falar, emitir opiniões ou postar mensagens nas redes sociais, é consultar fontes e avaliar se não se trata de fake news ou coisa parecida. Alertar as pessoas sobre as fake segue boa ideia. Procurar não mentir, assustar inutilmente os outros e divulgar inverdades é saudável, é bom e fortalece os parentescos e amizades.
O noticiário e a realidade já andam pesadíssimos e aumentar a carga com falsidades torna a coisa muito pior. Divulgar notícias boas, mensagens saudáveis e bem-humoradas claro que é bom nestes tempos de pandemia crônica.
Mentira tinha perna curta, no tempo da minha vó. Agora mentiras têm pernas intercontinentais. Olho nelas. 

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