sábado, 22 de janeiro de 2022


22 DE JANEIRO DE 2022
EFEITOS NA ECONOMIA GAÚCHA

"Sabemos que a safra será muito ruim ou péssima"

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, diz que é cedo para falar no tamanho das perdas. A entidade reúne dados e pretende divulgar números mais precisos sobre estiagem neste mês.

A situação, explica, é mais clara para o milho, entretanto, bastante incerta na soja. Nessa cultura, comenta Luz, existem áreas plantadas, com prejuízo, e as que não foram semeadas geram insegurança quanto à qualidade dos grãos.

- Não se sabe o que vai acontecer na soja, só que precisamos de chuva para salvá-la. Algumas coisas, sim, nós sabemos. Sabemos, por exemplo, que não teremos uma safra ótima, boa ou ruim. Sabemos que a safra será muito ruim ou péssima, mas é preciso esperar para avaliar - antecipa.

Com base em cálculos, a partir da matriz insumo/produto, o economista afirma que é possível mensurar que para cada R$ 1 gerado da porteira para dentro, outros R$ 3,20 estão nos setores que atuam fora das propriedades. Ou seja, os danos para as cidades são três vezes maiores do que os verificados nas lavouras.

Em São Borja, na Fronteira Oeste do Estado, um dos locais mais castigados por altas temperaturas e falta de chuva, os reflexos são visíveis no consumo. Presidente da Associação Comercial do município, Neronei Cargnin relata retração e preocupação entre os varejistas.

Para ele, na esteira da seca, há risco de não cumprimento dos contratos recentes de arrendamento de soja, em áreas antes utilizadas pela pecuária e arroz. Caso se confirme, o efeito imediato seria menos dinheiro em circulação na cidade.

Mais tarde, avalia o dirigente, surgiriam dificuldades para retomar culturas anteriores. Isso, principalmente, na criação de gado, pois é necessário secar todo o campo de pasto nativo para preparar o plantio de novos grãos para a agricultura.

 CAMPO E LAVOURA

Calor intenso e chuva irregular agravam situação da soja no RS

Os efeitos da estiagem que castiga o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado a cada dia se mostram mais severos no campo. Além do estrago já irreversível no milho, a sequência de dias extremamente quentes e chuva irregular na semana agravou as dificuldades no desenvolvimento da soja. Segundo a Emater, em algumas lavouras, os agricultores já relatam morte das plantas ainda na fase inicial do cultivo.

A situação crítica está se expandindo para praticamente todas as regiões, segundo o diretor técnico da Emater-RS, Alencar Rugeri.

- Claro que dentro dessa generalização há variação das perdas. Mas o impacto é bastante grande. Estamos tentando buscar uma forma de mensurar esse panorama - diz Rugeri.

O quadro geral é de que as plantações da principal cultura do Estado apresentam baixa estatura e quebra significativa de potencial produtivo. Por causa do ritmo lento no desenvolvimento das plantas e do atraso na semeadura, 63% das lavouras ainda estão em fase vegetativa, quando a média para o período é de 45%.

Em monitoramento realizado por equipes da Agricultura do Estado, constatou-se lavouras de soja com perdas acima de 80%, com municípios decretando o término precoce da safra do grão e também do milho.

A situação adversa se agrava pela combinação de dois fatores, segundo Rugeri. Além do tempo seco, as altas temperaturas também impactam diretamente no desenvolvimento das culturas.

E os prognósticos para os próximos dias não são animadores. Segundo o Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), o calor seguirá intenso, com marcas próximas de 40ºC na maior parte das regiões. A expectativa é pelas pancadas de chuva de verão, embora o volume e a distribuição tendam a ser bastante irregulares.

Também devido ao tempo seco, o plantio da soja ainda não foi concluído e está em 97% da área total estimada. Essa semana, a Secretaria da Agricultura encaminhou um ofício ao Ministério da Agricultura solicitando que o período de semeadura seja ampliado até fim de fevereiro.

Em razão da estiagem e das perdas contabilizadas até agora, é possível que haja necessidade de replantio em algumas áreas para além da data-limite de semeadura, que encerra no próximo dia 31 de janeiro. Até o fechamento deste texto, a pasta não havia ainda recebido retorno do ministério.

Os efeitos da falta de chuva no grão ainda vão além, já afetando também a venda futura da soja, como noticiou a coluna. Apenas 17% da produção estimada havia sido comercializada de forma antecipada no Estado até o começo deste mês, segundo levantamento da Safras & Mercado. O número é menor que a média dos últimos anos e também do ano passado, que chegou a ser fora da curva pela boa safra e pelos bons preços.

BRUNA OLIVEIRA INTERINA

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