segunda-feira, 10 de janeiro de 2022


10 DE JANEIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

APAGÃO PREOCUPANTE

Um mês depois do alegado ataque cibernético que provocou um apagão da rede de dados do Ministério da Saúde, o país continua sem informações oficiais consistentes sobre a pandemia e sem saber quais foram as motivações dos hackers ou mesmo quem são eles. Justificado pelo próprio ministério como "um incidente que comprometeu temporariamente alguns sistemas da pasta", o atentado tirou do ar o e-SUS Notifica, o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI e o ConecteSUS, além de indisponibilizar temporariamente algumas funcionalidades importantes para a população, como a emissão do Certificado Nacional de Vacinação Covid-19 e da Carteira Nacional de Vacinação Digital.

Tanto quanto a incúria que deixou desprotegido um sistema essencial para o país num momento de catástrofe sanitária, a demora no restabelecimento dos serviços evidencia descaso com a população e desapreço ao uso científico das informações para a definição de políticas públicas. Esta dificuldade está implícita na recente reclamação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que desde 6 de dezembro não divulga novos boletins do InfoGripe, com levantamento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), resultantes da covid-19 e da influenza. O InfoGripe depende da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), que continua em manutenção e sem receber regularmente os registros estaduais de casos da doença e exames.

O acompanhamento do cenário epidemiológico é decisivo para a definição de estratégias de controle e redução de danos das doenças transmissíveis por parte de gestores e autoridades da saúde. Eles se baseiam, para tomar suas decisões, nos registros de casos e óbitos, nas informações sobre hospitalização e atendimento por sintomas respiratórios e no acompanhamento percentual da população vacinada. Sem tais dados, ficam impossibilitados de formular estratégias eficazes para prevenir colapsos no sistema hospitalar, principalmente em momentos de pressão como o atual, decorrente da explosão de contágios.

É recorrente este desinteresse do governo em fornecer informações sobre a pandemia. Tanto que, em junho de 2020, alguns dos principais veículos de imprensa do país decidiram formar um consórcio e trabalhar de forma colaborativa para buscar por conta própria dados estaduais que vinham sendo sonegados pelo Ministério da Saúde. "Acabou matéria no Jornal Nacional", disse na ocasião o presidente da República ao determinar mudanças na cúpula e no portal de notícias do ministério.

Compreende-se o desconforto do governo com a divulgação diária do elevado número de contaminações e óbitos que situam o Brasil na segunda colocação do ranking mais negativo da pandemia. Mas ocultar a realidade não a altera. Pelo contrário, sem informações consistentes e confiáveis, o país mergulha em um apagão extremamente nefasto e prejudicial a todos - como está acontecendo agora com a expansão descontrolada do contágio pela variante Ômicron, resultante em grande parte do contato direto entre pessoas sãs e doentes assintomáticos que sequer são orientados a se isolar.

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