24 DE JANEIRO DE 2022
MAURÍCIO SARAIVA
Resista. Adapte-se. Transforme
Algumas palavras ganham relevância e prioridade no vocabulário porque são a melhor definição para um determinado momento da vida humana. Em tempos recentes, uma expressão em particular ganhou vida própria e seu sentido faz cada vez mais sentido, com o perdão do infame trocadilho. Você tem falado ou praticado resiliência quantas vezes por dia, por semana ou por mês? A vida não anda exigindo de você resiliência em tempo integral? Ou sou só eu que sinto a necessidade vital de ser resiliente para superar todos os desafios que o cotidiano me apresenta a cada amanhecer?
A ideia de se adaptar para sobreviver nunca foi tão explícita, nunca me pareceu tão visceral para encerrar e começar um novo dia. Reagir positivamente à adversidade, ser estoico, quem de nós não está vivendo esta cena a cada instante?
Quando escolhi o tema desta coluna, concluí que não basta resiliência para almejar melhores dias. Depois de resistir e se adaptar às circunstâncias, é preciso transformar. Se fosse só se acostumar a tempos sombrios, seria uma espécie de capitulação. Quero crer que nós, humanos, merecemos mais do que capitular. Buscar ser tão feliz tanto quanto possível é direito inalienável dos bípedes pensantes. Então, ao viver mais um ano de travessia por conta da pandemia e suas pesadas consequências, acredito neste passo a passo em que primeiro resistimos, depois nos adaptamos e, por fim, transformamos para viver melhor.
Veja, por exemplo, o caso do negacionista: a tentação é desejar que pessoas negacionistas sumam da face da Terra. Mas não é a melhor solução. O certo é atuar para que o negacionismo suma das pessoas e estas, transformadas, cooperem para novos e melhores tempos. O negar a vacina é só a face mais asquerosa de tantas coisas que compõem uma realidade onde a intolerância prolifera. Xenofobia, desigualdade, preconceito e outros quesitos que já deveriam ter sido banidos da convivência humana estão a pleno pelo planeta. Embora todo ato seja político no sentido de representar um jeito de pensar e agir, não se trata necessariamente de esquerda, centro ou direita. Há parâmetros que atravessam ou deveriam atravessar as fronteiras ideológicas. Por isso, corro o risco de ver o teor da coluna confundido com qualquer viés ideológico. E, insisto, não se trata disso.
No preocupante 2022 que recém começa, aqui, sim, um aparte específico sobre eleições no Brasil. Na anterior, vi perto de mim pessoas do mesmo sangue brigando irreversivelmente por preferências políticas. O transcorrer dos quatro anos que nos separam daquele momento só serviu para tornar este risco ainda mais angustiante, uma vez que ampliaram-se gravemente as divergências entre os extremos.
Resistir é tolerar sem sucumbir. Adaptar-se pode ser agachar para não cair e, a seguir, ficar de pé outra vez. Transformar é individual e, se bem-sucedido, vira coletivo. O resultado final é a percepção do senso comum de que a vida melhorou. Seria fantástico se o processo fosse rápido e indolor. Tão fantástico quanto fantasioso, já que não existe passe de mágica que traga soluções fulminantes. Trata-se da vida em sociedade. De enfrentar um ano onde tudo ainda é incerto por causa da demora planetária em estabelecer uma nova normalidade.
Parte daí a premissa de que a primeira atitude é individual, o que absolutamente não significa egoísmo ou egocentrismo. Refiro o indivíduo pelo todo. Conversar, ouvir e falar na mesma proporção, coisas desta natureza que parecem óbvias precisam de prática imediata. Enquanto as coisas permanecerem como estão, sugiro cumprir o protocolo da travessia. Resista. Adapte-se. Transforme.
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