11 DE JANEIRO DE 2022
NÍLSON SOUZA
Não olhe para o sol
É previsão, não é precisão, como dizia a Maju quando ocupava com elegância a janela do tempo na TV. Mas li em algum lugar que até o final desta semana, a nossa Forno Alegre terá o seu dia de 47 graus no termômetro ou na sensação térmica - o que não faz muita diferença. Torraremos igual, se isso realmente vier a acontecer. Ainda bem que metade da população já está no Litoral, talvez sobre um pouquinho mais de ar por aqui para a gente respirar.
Entre o calor e o frio, que às vezes também radicaliza por estas bandas, ainda fico com o primeiro, principalmente em respeito aos moradores de rua, calçadas, marquises e viadutos, que já são quase maioria na nossa cidade. Mas tudo tem um limite: até os 40 graus sei que suporto, pois já passei por isso uma vez na cidade espanhola de Sevilha, numa cobertura de Copa do Mundo. Mas 47? Socorro! Vou pedir asilo na embaixada da Mongólia.
Se os supercomputadores que formularam o modelo meteorológico para esta semana estiverem certos, Porto Alegre baterá o seu recorde de alta temperatura, que é de 1943 e ainda está cravado nos 40,8 graus. No interior do Estado, lá pelo Alegrete do João Saldanha e do Mario Quintana, já andou fazendo 42,6 graus em tempos pretéritos. E o mais desconcertante é que esses registros são de uma época em que, supostamente, havia mais árvores e menos asfalto.
Pois vem de Ijuí, que também ferve nos nossos verões, uma iniciativa bacana para atenuar o aquecimento global que nos ameaça mais do que o meteoro do filme. Desde 1º de janeiro, cada criança que nasce no Hospital de Caridade local ganha de presente uma muda de árvore, que os pais levam para casa com o bebê e com a obrigação de plantá-la em homenagem à criança. Eis aí uma ideia que merece ser replicada na Capital e em outras cidades do Estado. Árvores, como todos sabemos, absorvem o carbono poluente e nos oferecem sombra e frutos. E sem os efeitos colaterais do ar-condicionado.
Se eu pudesse retroceder no tempo, me refugiaria na figueira de minha infância nesta antevéspera dos 47 graus. Ficava na Zona Norte, no campo do seu Mateus, o dono do tambo onde buscávamos o leite, que não vinha em caixinhas. Às vezes eu ficava naquela sombra lendo histórias em quadrinhos até a hora do pôr do sol que, ironicamente, ilustra os principais cartões-postais desta cidade ameaçada.
Se a previsão se cumprir, vou virar a cara para ele por um bom tempo.
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