terça-feira, 23 de novembro de 2021


23 DE NOVEMBRO DE 2021
NÍLSON SOUZA

Caça-cliques

Você não vai acreditar, mas a curiosidade só mata o gato quando os humanos o atraem para armadilhas como faziam na Idade Média por acreditarem que eles estavam associados a bruxas. Na verdade, por acreditarem em bruxas. Mais verdade ainda, por serem muitas vezes ignorantes, ingênuos, presas fáceis das fake news, principalmente quando alguém lhes oferece alguma vantagem.

Ganhe dinheiro sem sair de casa, por exemplo. Isso até é possível em tempos de home office e de empreendedorismo digital, mas continua sendo um privilégio de poucos. E esses poucos suam a camiseta, preparam-se, dedicam-se, persistem mais do que o cortador de pedras da fábula de Jacob Riis. Sem obstinação, não vai. Mesmo para aqueles que descobrem a pólvora ou, numa versão mais atual e politicamente correta, criam a sua maçã tecnológica.

Dois homens conversam e o que acontece depois é inacreditável. Só se esses homens forem o Steve Jobs (que já não está mais entre nós) e o Stephen Wozniak, que criaram a Apple numa garagem. Dois gênios, talvez, mas não como aqueles saídos da lâmpada mágica: gênios da matemática, da eletrônica, da imaginação e do trabalho. Gente assim realmente faz coisas inacreditáveis. Alguns até ficam milionários.

O segredo dos milionários do Vale do Silício finalmente revelado. Será? Jeito de armadilha, cheiro de armadilha, certamente é uma armadilha. Pega-ratão, como se dizia antigamente e, no contexto desta crônica, pra fazer contraponto com o gato do início. Por trás da chamada atraente, não tem segredo algum: se você clicar, os milionários do Vale do Silício é que ficam um pouco mais milionários, pois, como bem mostra o filme Dilema das Redes, você é o produto.

Não seja produto. Pense antes de clicar. Controle a curiosidade e desconfie sempre que algo vantajoso ou atraente demais brilhar na sua telinha. Não acredite em quem diz que você não vai acreditar. Não acredite em lucro fácil. Não acredite em promessas mirabolantes. Não acredite nas calúnias travestidas de verdade, especialmente em períodos de disputas políticas. E, por favor, não compartilhe absurdos.

Parodiando o documentário: no caça-cliques eleitoral já deflagrado, você é a caça.

 NÍLSON SOUZA

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