30 DE NOVEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS
INCERTEZAS E NEGOCIAÇÕES SALARIAIS
Não há, na economia real brasileira, quem ganhe com o atual quadro degradado de atividade a passos lentos e inflação a trote. As empresas perdem pela demanda fraca e pela alta dos insumos e demais custos, como energia elétrica e combustíveis. Muitas companhias não vêm conseguindo repassar estas pressões, exatamente pela procura aquém do esperado e do desejável. As exceções têm sido os setores voltados à exportação.
Os trabalhadores sentem efeitos semelhantes. A desvalorização da moeda lesa o poder de compra, enquanto a economia claudicante mantém o desemprego em níveis elevados e coíbe o consumo. O desaquecimento dos negócios, por consequência, dificulta que grande parte das categorias no país consiga reajustes salariais reais, acima da inflação.
Reportagem publicada na edição de ontem de Zero Hora é ilustrativa. De 50 negociações entre patrões e empregados compiladas pela Fipe no país, 37 acabaram com correções abaixo da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e apenas duas superaram o indicador que mede a oscilação do custo de vidas de famílias com renda de um a cinco salários mínimos. No Rio Grande do Sul, o panorama ao longo do ano para os assalariados se mostra ligeiramente melhor. De janeiro a outubro, de 42 categorias avaliadas, 14 tiveram aumento abaixo do INPC, e nove, acima.
O cenário, com cada vez mais alertas sobre o risco de o país ingressar em 2022 amargando uma estagflação, se mostra preocupante. Este é um contexto, portanto, que exige bom senso e flexibilidade nas negociações salariais. Muitas vezes, as tratativas entre empregados e empregadores e seus respectivos representantes são cercadas de antagonismos e tensões, naturais no processo. Mas este é o momento de compreensão e colaboração mútua, em busca de acordos que, se não chegam ao fim da maneira idealizada por um dos lados, são os mais indicados e possíveis conforme a realidade específica de cada segmento. Em um ambiente hostil, de elevada incerteza, ganha-se quando se assegura a saúde financeira do empregador, que poderá voltar a crescer em uma futura conjuntura mais benigna, e ao mesmo tempo ao menos se mantém o nível de empregos.
Os analistas de mercado consultados no Boletim Focus, do Banco Central, voltaram a demonstrar mais apreensão. Os dados divulgados ontem apontam que, agora, se espera que a inflação feche o ano em 10,15%. Uma semana atrás, a estimativa era de 10,12%. Para o próximo ano, as projeções também subiram. Passaram de 4,96% para 5%. O mesmo sentimento perpassa o desempenho da economia. Para o ano em curso, o cálculo de crescimento caiu de 4,80% para 4,78%. Para 2022, a expansão antes prevista em 0,7% minguou para 0,58%. São várias semanas de revisão para pior destes indicadores. Parece inequívoco que há crescente desconfiança para os meses à frente. A aproximação do calendário eleitoral é outro fator gerador de instabilidade. Nas relações de trabalho, é preciso compreender as circunstâncias e buscar mais entendimento e menos tensionamento.
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