A volta ao mundo com Anthony Bourdain
Caymmi, Quintana, o mar e outros temas
Consta que o grande Dorival Caymmi, alguns anos antes de morrer, aos 94 anos, em 2008, costumava ficar horas sentado, em silêncio, contemplando o mar do Rio de Janeiro. Caymmi cantou o mar como poucos, especialmente o mar da mágica Bahia, onde nasceu.
Acho que daqui a alguns anos vou seguir o exemplo de Caymmi. Por enquanto fico algum tempo fitando o vai e vem, o eterno e milenar encontro das ondas com a praia e seu retorno infindável ao mar imenso. O oceano sabiamente alterna luz e sombra, silêncios e sons, presente e passado, profundidade e superfície e nos mostra que as águas, as ondas, o tempo e o vento e as imensas riquezas dos mares estão muito acima das grandezas e pequenezas dos nossos poucos e rápidos dias nesta passagem pelo planeta. O mar nos convida a pensar sobre o que realmente interessa na vida, especialmente nesses momentos de tempestades várias que vivemos.
Falando em tempestades várias e da "questão social", vale lembrar Mario Quintana, imortal do povo e presença nas mentes e bocas de várias e várias gerações. "Eu nada entendo da questão social/ Eu faço parte dela, simplesmente.../ E sei apenas do meu próprio mal,/ Que não é bem o mal de toda gente." Os versos do poeta alegretense retratam o que muitos brasileiros, atônitos, sentem hoje diante de tantas crises e de tantos problemas seculares brasileiros. Está complicado entender estas ondas do mar da política e as nuvens dos céus que na maior parte do tempo não são translúcidos como gostam os brigadeiros.
Mas é preciso seguir sendo, brasileiramente, profissional da esperança, torcendo pela vacina, pela retomada da economia e por diálogos e soluções que realmente interessem ao bem coletivo. Como diz o outro, é preciso observar a marcha dos acontecimentos e seguir apoiando soluções democráticas, liberdade, saúde, educação, cultura e caminhos que nos levem para um futuro decente. Totalitarismos, individualismos e fanatismos de qualquer tipo não devem prosperar. As histórias de muitos países demonstram que o melhor é a interminável e, por vezes, difícil construção da democracia. A democracia é um "work in progress", obra humana que nunca termina e que sempre pode e deve ser aperfeiçoada.
No momento está difícil, quase impossível, opinar com segurança sobre política, economia e rumos sociais. O que se pode é contribuir, individual e coletivamente, para que as coisas melhorem. Com mais paciência ainda, serenidade, diálogo, boa vontade e respeito ao outro, quem sabe a gente consiga iluminar o túnel.
Não é com violência, radicalização, individualismo exacerbado e destempero físico e verbal que vamos chegar lá. Violência gera violência, gentileza gera gentileza. Isso é mais velho que a Sé de Braga ou que andar a pé, mas permanece válido. São Francisco de Assis, Martin Luther King, Gandhi, Madre Teresa, Mandela e outros mostraram que os caminhos da paz são possíveis, desde que a gente procure tratar os outros como a gente gosta de ser tratado.
A propósito...
Lançamentos
- As noivas fantasmas & Outros Casos (L&PM Editores, 176 páginas, R$ 45,90), ilustrado com desenhos e fotos, apresenta 46 textos inéditos de Sergio Faraco, um de nossos mais celebrados contistas. Faraco fala de Marlene Dietrich ao vivo em Moscou, da história da invenção do futebol e do convívio com Mario Quintana e Erico Verissimo, entre outras preciosidades.
- Histórias de Marketing e Vendas - As lições que a vida me ensinou (Leitura XXI, 152 páginas, R$ 35,00), de Heitor Bergamini, economista, ex-executivo de grandes corporações e consultor, traz sua bela e longa trajetória, valiosas lições profissionais sobre marketing e vendas e reflexões sobre fazer amigos e qualidade humana nos relacionamentos.
- Bolita de gude (Libretos, 36 páginas, R$ 32,00), do consagrado jornalista e escritor Rafael Guimaraens, com modernas ilustrações de Moa Gutterres e design gráfico de Clô Barcellos, traz a história de Gabriel, No fim de semana com o vô, está com um dilema. O vô ensina o neto a jogar bulita, conta um episódio de infância e aí Gabriel cria coragem para enfrentar o problema.
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