Um crime na cidade mais linda do mundo
Mark Twain dizia que Weggis era a cidade mais linda do mundo. Lá ele desfrutava de seus verões, escrevendo, descansando, sorvendo o ar puro do sopé dos Alpes suíços. Existe um monumento que o homenageia, às margens do belíssimo Lago Lucerna.
Estive em Weggis em 2006, na cobertura da Seleção Brasileira. Como havia um milheiro de jornalistas atrás da Seleção, os suíços construíram um centro de imprensa para que pudéssemos trabalhar confortavelmente. Era uma estrutura que ficava ao lado do campo em que o Brasil treinava, muito bem localizada. Num desses treinos, uma moça invadiu o campo para abraçar e beijar o Ronaldinho. Aquele ato inesperado causou grande agitação. Nós, da RBS, vimos a cena pela janela do centro de imprensa.
- Temos de ir até lá! - gritei. Mas havia um problema: nossos computadores estavam todos nas mesas de trabalho. Se os recolhêssemos, perderíamos a ação. Se os deixássemos, poderíamos ser roubados. Então, o Professor Ruy deu a solução:
- Podem ir, que eu fico por aqui. Fomos, vimos o que tinha de ser visto, entrevistamos quem devia ser entrevistado e voltamos.
Mas, antes de entrar no prédio, na rua, em meio à multidão de jornalistas e torcedores, quem eu vejo caminhando e olhando para os lados, à procura de alguém? Ele: o Professor.
- Viste o Chico, da Globo? - ele me perguntou, meio afobado. Eu: - Professor, quem ficou cuidando do nosso equipamento?
Ele respondeu que tinha encarregado alguém de outra emissora, não recordo quem era.
Subi correndo pelas escadas, amassado por um pressentimento ruim. Que se confirmou. Vários laptops e máquinas fotográficas haviam sido levados, inclusive do nosso fotógrafo, o André Feltes. Na mesa em que eu estava, incrivelmente, eles roubaram todos os computadores em torno do meu - menos o meu.
Não culpei o Professor, porque a Globo o chamara para fazer um comentário, e era urgente, ele não podia deixar de atender. O que aconteceu foi que os ladrões foram habilidosos. Aproveitaram-se de dois minutos de hesitação na troca da guarda e fizeram a limpa. Várias equipes foram roubadas, não só a nossa.
Decidi registrar queixa na polícia. Informaram-me que a delegacia ficava no andar térreo de um hotel, mas só funcionava à tarde, depois das 15h. Quando cheguei lá e disse o que queria, eles se espantaram:
- Um roubo? Aqui??? Fazia anos que nenhum crime acontecia em Weggis, aquele paraíso. Deram-me uma folha de papel almaço com pauta e uma caneta para que descrevesse a ocorrência em inglês. Foi o que fiz. Entreguei a folha e eles leram de olhos arregalados.
Naquele momento, um dos policiais ou curiosos, sei lá, disse uma frase que me impactou, e que me faz repetir essa história suíça agora.
Mas, antes de citar a frase, deixe-me contar que o fato de eu ter ido registrar o roubo foi levado ao prefeito de Weggis, que, consternado, resolveu reparar o nosso prejuízo. Nos deu de presente equipamentos novos. Dias depois, recebi um laptop novinho das mãos do próprio prefeito, em uma breve e bonita cerimônia, com direito a música de bandinha. Ele me cumprimentou e pediu desculpas. Aceitei-as, generoso que sou. É capaz de o laptop ainda estar na Zero Hora, mesmo com 15 anos de idade.
Voltando à frase que me levou a escrever... Maldição! Percebo que acabou o espaço. Na próxima crônica conto o que o suíço falou que tanto me abalou.
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