quarta-feira, 10 de novembro de 2021


10 DE NOVEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

As aparências nem sempre enganam

Li nas redes: "A mulher é julgada pela aparência até quando morre". Uma referência aos comentários que as pessoas fizeram sobre a cantora Marília Mendonça, que morreu num desastre de avião, sexta passada.

Pois confesso que eu, que só conhecia a Marília Mendonça de nome, também me surpreendi com a aparência dela. Não por ser gorda ou magra, mas por surgir ora gorda, ora magra, ora loira, ora de cabelos escuros, ora de óculos, ora sem. Ela parecia ser diferente a cada aparição. Eu não a reconheceria em fases distintas.

Mas o que quero dizer é que as pessoas não necessariamente julgam pela aparência, mas a aparência é, sim, um elemento importante quando você pretende saber quem é o outro ser humano. Sou quase lombrosiano, nesse sentido: acredito que a personalidade fica impressa em alguns traços da pessoa.

E, ao falar "pessoa", falo de mulheres e homens. O cantor Leo Jaime, ao ler uma postagem de alguém que criticava os que diziam que Marília Mendonça muitas vezes estava "acima do peso", observou:

- Ouvi isso a minha vida inteira.

Jesus. Você não gostaria de saber como era Jesus? A imagem dele que se consagrou, com cabelos castanhos e compridos, magro e olhos azuis, essa imagem de homem tipicamente caucasiano não significa algo? Não passa uma mensagem?

Júlio César era careca. As legiões o chamavam carinhosamente de "Calvo Adúltero". Quando ele estava voltando da Gália, depois de nove anos em que "vini, vidi, vinci", os legionários cantavam pelas ruas de Roma: "Escondam suas mulheres, o Calvo Adúltero voltou!"

Já Napoleão Bonaparte, quando era aluno da escola militar, sofria bullying por ficar ridículo dentro das compridas botas do exército francês. Napoleão era baixinho e, segundo dizem, tinha um pênis de 2,5 centímetros. Depois que ele morreu, um médico amputou esse pênis pequenininho e o guardou sob conserva.

Já Rasputin era o oposto de Napoleão nesse aspecto relevante da existência masculina: tinha um pênis de cerca de 25 centímetros, segundo o testemunho das muitas e felizes mulheres com quem ele se relacionou intimamente. Fui num museu, em São Petersburgo, que se orgulhava de expor o pênis de Rasputin dentro de uma caixa de vidro. Se era mesmo de Rasputin, pode-se afirmar que seu membro era de bom tamanho, de fato.

Quanto à aparência propriamente dita, Rasputin se destacava por ter dois metros de altura e um olhar hipnótico que fazia os russos estremecerem.

Os artistas, como era Marília e como é Leo Jaime, sempre chamaram a atenção por pormenores físicos. Nelson Ned era anão e Roberto Carlos tem uma prótese numa das pernas. De acordo com Gilberto Gil, Bob Marley morreu porque além de negro era judeu, mas Michael Jackson ainda resiste porque além de branco ficou triste. Quer dizer: resistia.

Elvis, "The Pelvis", foi vitimado exatamente por se importar demais com a aparência. Viciou-se em remédios para emagrecer. No fim da vida, estava inchado e vestia roupas estranhas. É triste que a imagem de Elvis, hoje, seja um cara vestido com aquelas roupas.

Os Beatles começaram comportados, com terninhos e franjinhas. Depois, se soltaram, deixaram os cabelos e as barbas crescerem e usavam roupas coloridas. Nesse ponto, os Stones estavam um passo à frente.

Ray Charles é cego, Stevie Wonder é cego e o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem.

Todos nós, homens e mulheres, passamos impressões aos outros com a nossa imagem. Eu, inclusive, não aguento mais ser confundido com o Brad Pitt. É chato isso. Por favor, Brad, cada um com sua própria identidade.

DAVID COIMBRA

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