22 DE NOVEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA
Confusão em Guarulhos por causa de um coelho
Está circulando na internet o vídeo de uma briga no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, ocorrida neste fim de semana. Um casal queria embarcar com um coelho num voo para Dublin e a companhia não permitiu. O casal disse que tinha autorização judicial para levar o coelho pelos ares, mas o comandante respondeu que estava pouco se lixando para a autorização e que roedores não entrariam na sua aeronave.
Fiquei sabendo, pela notícia do jornal, de algo que desconhecia: que os coelhos não são roedores, são lagomorfos. Por Deus, nunca imaginei que um coelho fosse um lagomorfo. Eles não têm cara de lagomorfos. Isso, realmente, explica tudo.
Mas, de qualquer forma, a companhia não estava disposta a deixar que embarcassem nem roedores nem lagomorfos. O casal ficou furioso, a moça começou a gritar e uma funcionária da companhia veio interferir. A funcionária, vestida toda de azul, também parecia nervosa. O passageiro, um homem magro, usando uma camisa xadrez de mangas curtas, falava ao telefone celular. Manteve sempre o celular na orelha, mesmo enquanto discutia acerbamente com os funcionários. Foi com o celular grudado na orelha que ele, em determinado momento, correu de forma ameaçadora em direção à funcionária. Os seguranças do aeroporto acudiram, cercaram o homem. De repente, um lhe deu uma rasteira, ele caiu, mas não largou o celular e não o afastou da orelha. Levantou-se, irritadíssimo, e, com a mão livre, tentou acertar um soco na cara do segurança, que gritou, escandalizado:
- Ele me deu um soco! Aí os seguranças foram para cima do passageiro e o empurraram e até um soco saiu de algum braço, talvez roçando o queixo do homem, que, imprensado contra a parede, gritava:
- Socorro! Socorro! Tudo isso aconteceu, mas ele nunca, nunca, nunca soltou o celular e nunca, nunca, nunca o desgrudou da orelha. Com quem será que estava falando?
Ao prosseguir com o celular em riste, ele dava a impressão de estar numa ligação muito importante, a pessoa com quem falava iria resolver a situação, era uma autoridade. Mas como ela o entenderia naquele tumulto?
De qualquer forma, ele, a mulher e o lagomorfo acabaram embarcando no dia seguinte para Dublin. Eles venceram. Vi uma foto do coelho nos braços do homem sorridente. Trata-se de um coelho grande, do tamanho de um gato, de pelo cinzento e olhar plácido. Chama-se Alfredo.
Está provado: seres humanos podem, sim, se afeiçoar a lagomorfos e a outros tipos incomuns de animais. A minha amiga Greice Zaffari, inclusive, um dia viajou de avião com uma mulher que levava um porco no colo. Sério. Ela mandou até foto.
Nos Estados Unidos, as cobras são populares como bichos de estimação, mesmo que não sejam animais muito amorosos. Eu não gostaria de viajar ao lado de uma cobra.
Eu mesmo já tive um galo de que gostava muito. Como o coelho que motivou a briga, ele também se chamava Alfredo. Era um galo branco e de crista imponente. Num domingo, não o encontrei no quintal de casa. Procurei-o, procurei-o e nada do Alfredo. Então, vi que a minha mãe cozinhava galinha com arroz e estremeci. Sim, era verdade, o Alfredo havia sido sacrificado em nome do almoço domingueiro. Acho que é por isso que até hoje não gosto muito de comer aves. Fiquei traumatizado. Os anos 1970 eram outros tempos para gentes e animais.
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