13 DE NOVEMBRO DE 2021
CLAUDIA TAJES
Terror no supermercado
Depois de alguns dias sem ir ao supermercado, me enchi de coragem - não posso dizer o mesmo com relação ao dinheiro - e tomei o rumo das gôndolas. Desde o começo da pandemia, ir ao súper é uma tarefa tensa. É um tal de escolher os horários com menos movimento, passar álcool até o cotovelo entre um produto e outro, esperar de longe enquanto os clientes apertam o pão para só então pegar o pacotinho que sobrou meio esgualepado. Bem verdade que a coisa melhorou agora que as duas doses estão no braço de tantos. Que cheguem logo, e o reforço também, para todos os brasileiros.
Os astronautas que andavam pelos corredores dos supermercados nos primeiros tempos da pandemia já aposentaram os uniformes plásticos. As máscaras seguem, vão seguir por muito tempo ainda, e agora servem também para esconder a boca aberta diante do espanto pelos preços de tudo.
Sério que o leite está custando tudo isso? Pobres das famílias com mamíferos em desenvolvimento. Pobres das famílias, ponto. A Pesquisa Nacional da Cesta Básica divulgada há algumas semanas pelo Dieese estimou que, para garantir as necessidades básicas de uma casa com dois adultos e duas crianças, o salário deveria ser de pelo menos R$ 5.500,00. Valor atual do salário mínimo: R$ 1.100,00.
Andar pelos corredores do supermercado é um eterno Halloween fora de época, um susto atrás do outro.
Na parte dos hortifrútis: não vou dormir com o preço desse tomate.
E ainda: tá na safra e custa isso tudo? Só pode ser pegadinha.
Nos grãos, farináceos e aparentados: vou ter pesadelo com o preço do feijão.
E também: precisei de um calmante depois de ver o preço do arroz.
Já na frente do supermercado, chorando: vi o preço da carne, foi horrível.
Não faz muito, ir ao supermercado era programa de final de semana. Você via pai, mãe e filhos empurrando o carrinho quase com alegria, demorando nos corredores pelo prazer de descobrir um xampu para cabelos estressados ou o desinfetante que trazia o ar dos Pireneus para dentro do seu banheiro. Pois bem, a diversão acabou. Agora vai ao supermercado quem perder no par ou ímpar. Depois a vítima tem direito a duas semanas de folga para se recuperar da experiência.
Só faça o possível para evitar que o coitado passe na frente de um posto. Se ele enxergar a plaquinha aquela, gasolina a R$ 7,999999, aí é trauma para o resto da vida.
Últimos dias da Feira do Livro, últimos dias para comprar artigos de primeira necessidade com preços reduzidos. Uma dica de última hora: Doida pra Escrever, de uma cronista, ensaísta, professora e mil coisas mais, a mineira Ana Elisa Ribeiro. Autora que escreve com muita sensibilidade sobre tudo isso que a gente vive e que é dona de ideias assim: "Ler (...) é como uma experiência que não se salta: um beijo inteiro, um abraço de saudade ou de despedida, a dentição da criança (...)". Mais um: "Fui, naquela tarde, à floricultura comprar uma futura árvore e três arbustos. Na verdade, fui comprar futuras sombras". Vejo delicadeza no futuro dos leitores da Ana Elisa.
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