20 DE NOVEMBRO DE 2021
MONJA COEN
CONSCIÊNCIA
Este sábado é o Dia da Consciência Negra. Por que ainda precisamos de um Dia da Consciência Negra? Porque ainda não há consciência geral, porque ainda há racismo estrutural no Brasil. Racismo de estrutura na formação de um país. Como a estrutura de um prédio, de uma casa, do metrô, das ruas da cidade. O arcabouço, o esqueleto de sustentação de um corpo, na construção da sociedade.
Estamos iniciando o processo de mudança. Mudança conceitual, de paradigma, de maneira de ser e de pensar, de se relacionar com a vida que permite a nossa vida.
O Dia da Consciência Negra começou em 2003. Até então, celebrávamos o Dia da Abolição da Escravatura, 13 de maio. Foi importante, sim, a Lei Áurea. Equidade e liberdade. Sem compra e venda de seres humanos.
Entretanto, antigo escravo não tinha vez. Foi ser periferia carente, com raras exceções que confirmaram a regra. Mas ainda há compra e venda de seres humanos. Desde criancinhas até a idosas prestando serviço de graça em casa de gente que explora gente. Não importa se são brancos, negros, amarelos, vermelhos, multicores.
Há gente comprando gente. Há gente vendendo gente. Há gente abusando de gente de muitas formas: com drogas, com armas, com insultos, perversidades, mentiras e manipulações mentais. Até quando?
Você pode fingir que não vê. Mas está acontecendo agora.
Gente que vende corpos inteiros ou suas partes. Gente que compra ideias e destrói ideais. Quanto custa o seu pensar? Você precisa pensar como eu penso, se não vou te cancelar. Uma campanha e logo você já era. Pode até ser trucidado em praça pública por uma multidão manipulada pelo ódio. Cuidado!
Queremos todos participar, ser incluídos. Quantas bobagens fazemos para não perder nossos afetos, seguidores, compradores, vendedores de sonhos e de esperança? Esperança não se compra nem se espera. Esperança se constrói.
Trabalho enobrece? Trabalho empobrece, humilha, nem sempre engrandece. Faça isto, faça aquilo e ficou faltando isto e aquilo. Você não entende? Burra. Louco, parece que não entende o que a gente fala. Tira tudo, recomeça. Das bocas sem ternura ou compaixão saem impropérios.
Consciência e compaixão. Vi escrito em algum lugar que paixão vem de pathos, sofrimento. Paixão pensei que fosse amor forte, arrebatador. Mas há também a paixão de Cristo, sofredor. Fazer com paixão seria fazer qualquer coisa com ardor, inteireza, dedicação completa, certeza de resultados, muito amor.
E que tal se houvesse o Dia da Consciência? Quando esse dia houver, ainda estará faltando consciência. Se houve necessidade de um dia especial, é porque ainda há falta. É preciso despertar toda a humanidade.
Estar desperto é perceber que precisamos uns dos outros, que nada é fixo ou permanente, que tudo é interdependente e que a África é um continente abusado e de lá veio a vida.
Nossa! Está na hora de cuidar e agradecer, rever o passado para que as malvadezas não se repitam. Havia gente que não acreditava que indígenas e negros eram gente. Que tinham direito, não apenas deveres. Havia quem duvidasse que as plantas sentiam e que os animais se comoviam. Havia quem nada soubesse do coração das pedras e das terras, do ar e dos mananciais. Havia gente sem consciência, que mentia, abusava, destruía e explorava.
Esse tempo está correndo, está passando. Há de passar. Tremendo, segure a minha mão e vamos juntos levantar a bandeira branca da paz, do amor, da inclusão, mesmo que para isso precisemos nos munir de todo estoque de ternura, sabedoria e bondade. Você vem?
Mãos em prece
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