18 DE NOVEMBRO DE 2021
EDUCAÇÃO
Provas do Enem sob nova polêmica
Funcionários que deixaram cargos relataram pressão por troca de questões. Dirigente e ministro negam interferência
O governo de Jair Bolsonaro estaria usando diversas estratégias, como a impressão de provas e a análise de pessoas externas ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), para tentar controlar o conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Servidores que pediram exoneração do órgão falam em pressão para trocar itens e o jornal Estado de S. Paulo apurou que já houve supressão de "questões sensíveis" na prova que será aplicada nos dias 21 e 28.
Ontem, Bolsonaro voltou a atacar a formulação do Enem, durante viagem a Doha, no Catar, afirmando que havia "temas esquisitos" em questões da prova, no passado, mas negou ter tido acesso às perguntas do exame deste ano.
- Olha o padrão do Enem do Brasil, pelo amor de Deus. Aquilo mede algum conhecimento ou é ativismo político e comportamental? Não precisa disso - disse Bolsonaro, em entrevista a jornalistas, depois de passear de moto com apoiadores no Catar. - Você gostava do sistema do passado, você tem família, filhos? Pelo amor de Deus - acrescentou.
Na segunda-feira, Bolsonaro já havia afirmado que o Enem começa agora a "ter a cara" do governo. A declaração ocorreu em meio à crise dos 37 pedidos de afastamento de servidores do Inep, que na semana passada criticaram a pressão sofrida e a "fragilidade técnica" da cúpula da autarquia responsável pelas provas.
Na terça, o vice-presidente Hamilton Mourão negou interferência na prova, com a alegação de que esse era o jeito de o presidente falar. Já o ministro da Educação, Milton Ribeiro, primeiramente, afirmou que teria acesso prévio às perguntas. Depois, recuou, dizendo que "não houve interferência".
Em audiência pública no Senado, ontem, o presidente do Inep, Danilo Dupas, também afirmou que não houve interferência política no teste. Segundo Dupas, as exonerações ocorreram por mudanças em gratificações e discordâncias quanto ao retorno ao trabalho presencial - a associação que representa a categoria nega.
- As provas foram montadas pela equipe técnica seguindo a metodologia que vem sendo adotada. A prova possui questões de diversos níveis de dificuldade que são calibradas para garantir certo nível de prova. É comum, portanto, que durante a montagem tenha itens que são colocados e itens que são retirados - justificou Dupas.
Ao falar sobre as exonerações, admitiu que o fato não é comum:
- Somos questionados se é natural que esse elevado número de servidores peça exoneração ao mesmo tempo. A resposta é não, mas também não é natural que 37 servidores, aparentemente preocupados com os exames e com o Inep, peçam exoneração ao mesmo tempo e na véspera da realização das provas.
O presidente da Associação dos Servidores do Inep (Assinep), Alexandre Retamal, rebateu:
- Os servidores do Inep não confiam nessa gestão. Se confiassem, não estaríamos vivendo essa situação. O Inep precisa ter autonomia para produzir suas estatísticas e dados para guiar políticas públicas.
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