terça-feira, 16 de novembro de 2021


16 DE NOVEMBRO DE 2021
CAPA

As muitas versões de Geraldo Flach

Com a pré-venda do disco "Flachianas", tem início uma série de tributos ao músico, incluindo documentário e songbook

Foi através do Orkut que Geraldo Flach (1945-2011) ficou sabendo que na cidade de Osório morava um adolescente que era fã de seu trabalho. Empolgado com a descoberta, foi correndo contar para a sua esposa, Ângela, a novidade "fascinante". E, mesmo "achando o máximo" aquele jovem que o considerava uma referência, o encontro presencial entre os dois nunca aconteceu. Em 2011, o pianista faleceu, vítima de um câncer.

Porém, mesmo sem o abraço entre o ídolo e o seu fã, o legado deixado por Flach se encarregou de conectar os dois. O jovem de Osório era Cristian Sperandir, hoje com 31 anos e um premiado pianista, tecladista, compositor, arranjador e produtor musical, que se aproximou da obra do mestre e, agora, é um dos responsáveis por um disco tributo inédito chamado Flachianas, que traz releituras de algumas das criações mais marcantes do músico porto-alegrense.

Apoiado pelos Amigos da Sala Jazz Geraldo Flach de Porto Alegre, o álbum conta com 10 faixas e é de autoria de Cristian Sperandir Grupo, além de contar com convidados que resgatam - e reimaginam - clássicos de Flach. A instrumental Rancheirinha, por exemplo, ganhou letra composta por Jerônimo Jardim e é interpretada por Shana Müller. Já Paola Kirst canta Novo Rumo, gravada originalmente por Elis Regina. Sperandir solta a voz em Cão Vadio. Além disso, Lorenzo Flach, neto do músico, toca guitarra na faixa Reencontro.

- Geraldo Flach foi uma referência para mim. É uma responsabilidade grande interpretar a obra dele e, além disso, poder criar em cima dela. A gente fez releituras das músicas, com novos arranjos, mas com um respeito muito grande, apesar de tentar colocar a nossa identidade - explica Sperandir.

E esta nova interpretação seria aprovada pelo próprio, garante Ângela Flach, viúva do músico e uma das produtoras do projeto:

- O Geraldo era o rei de pegar uma música e reinventar. Me lembro que ele fez isso com Asa Branca e demorei alguns minutos para entender que música era.

Formatos

Flachianas é a primeira parte de um ciclo de homenagens programadas ao músico dentro do selo Tributo a Geraldo Flach. Além do álbum, um documentário está sendo preparado, assim como um songbook, relembrando a trajetória do instrumentista e arranjador.

Ângela conta que a ideia dos tributos é antiga e se intensificou quando Cristian Sperandir demonstrou interesse em gravar a obra. Assim, foi formando-se um time, "cada um com uma função", sob coordenação da produtora cultural Lia Magali Zanini.

O documentário está sendo preparado há quatro anos, com o resgate de arquivos televisivos do artista e com a decupagem deste material. Sob a batuta do cineasta Rene Goya Filho, a produção pretende focar na obra de Flach e menos na vida do artista. Goya Filho reforça que Flach "sempre foi um cara da linha de frente" da música instrumental brasileira e, por isso, existem muitos registros dele em emissoras de TV desde a década de 1960. A produção agora busca recursos para incorporar mais pessoas ao trabalho e, assim, conseguir lançá-lo até o final de 2022.

- Eu, que trabalho com imagem e som, sei que os dois juntos têm a capacidade de vencer a morte. E eu acho que esse projeto, a essência dele, é justamente isso: a gente dando um pulo por cima da morte para assistir à obra do Geraldo - diz Goya Filho.

Já o songbook está sendo trabalhado em cima das muitas partituras deixadas por Flach e que foram guardadas por Ângela. Os documentos foram catalogados pelo músico, amigo e arquivista Luiz Martins. E o objetivo de trabalhar em cima deste material é, antes de tudo, transformá-lo em fonte de pesquisa, exercício e novas criações.

CARLOS REDEL

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