11 DE NOVEMBRO DE 2021
CARPINEJAR
Frigobar liberado
O amor é de graça, mas nem por isso você deve aceitar tudo o que vem do outro. Precisa recusar o ciúme, a possessividade, a chantagem, a ameaça, a birra, a raiva, a censura, a falta de educação e de respeito.
Não dá para consumir o que não combina com você. Não dá para acolher de braços abertos o que não presta unicamente porque é gratuito. Dentro do amor, nem sempre vêm os melhores sentimentos. Escolha, filtre, rejeite o que não serve.
Existem exageros que precisamos evitar, ainda que seja dentro de um pacote com momentos agradáveis. Temos uma precipitada mania de aceitar integralmente o que é oferecido: injeção na testa e veneno no coração.
Se você não paga nada, será que não arcará com a perda de sua liberdade? O preço da privação está embutido em toda concessão.
Imagine você realizando o check-in num hotel e o recepcionista avisando que tem direito a uma promoção de boas-vindas: o consumo do frigobar liberado.
Em um contexto normal, consumiria apenas água, seria econômico e restritivo. Pensaria duas vezes antes de abrir uma embalagem.
Já sabendo agora que não gastará coisa alguma, come as barras de chocolate, os salgadinhos, esvazia a bancada, bebe os refrigerantes e as cervejas. Emborca, inclusive, as miniaturas de uísque, logo você que não é adepto do álcool durante o dia.
Nem sente vontade, mas se obriga a aproveitar a cortesia como se não houvesse amanhã. Certamente, passará mal, ficará enjoado, tonto, indisposto, trancado no banheiro. Pode comprometer até a sua viagem e os seus passeios ou reuniões de trabalho.
O que iria digerir com parcimônia e controle torna-se uma devastação sem precedentes.
Raciocina que é uma chance rara, e que não tem como dispensar tamanha sorte. O que não percebe é que transformou o desejo em desespero, foi além do estômago e do fígado, agiu inflamado pela carência.
Só porque é de graça, ultrapassou os seus limites e contrariou as próprias regras.
De igual forma, talvez mantenha a ilusão de que o seu relacionamento é um frigobar liberado, despreocupando-se com as despesas e com a reposição.
Se o seu romance o isola dos amigos e da família, e admite a limitação porque acha que a pessoa quer ficar mais tempo com você, se o namoro ou casamento é entremeado de discussões e rompantes de grosseria, e tolera a gritaria porque julga que é preocupação, você não tem valorizado a sua saúde emocional.
É hóspede em si mesmo.
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