19 DE NOVEMBRO DE 2021
O Enem e o mito da neutralidade
Para você, o MST promove ocupações ou invasões? O que ocorreu em 1964 foi golpe ou revolução? Se você fosse responsável por elaborar uma prova do Enem sobre esses temas, que termo usaria? Você faria questões sobre esses temas no Enem? Escolhas, sempre ideológicas. Até a neutralidade é uma posição política.
Ainda adolescente, morei um ano em Israel. Lá, certo dia, assisti a um enfrentamento entre manifestantes palestinos e forças de segurança de Israel. Ou seriam terroristas e o Exército de Defesa de Israel? Ou manifestantes e as forças de ocupação? Enfim, acompanhei depois as repercussões nas capas dos jornais. No israelense, a foto havia sido tirada por trás dos soldados. Mostrava palestinos, raivosos, atacando. No jornal árabe, a imagem possivelmente havia sido captada no mesmo instante, mas do outro lado. Os soldados israelenses apareciam em uma posição agressiva, de frente, escudos e armas em punho.
Onde está a verdade daquele dia? Na origem histórica do conflito?
Essa semana, o delegado que investiga o assassinato de uma criança aqui no RS declarou, sobre uma das acusadas: "Não a chamo de mãe, mas sim de genitora. Mãe não faz o que ela fez". A escolha da palavra, embora ambas sejam corretas, carrega muito mais do que uma opção estética. É sempre assim.
O que aconteceu na boate Kiss foi um acidente ou um crime? Nove anos depois, a Justiça ainda não conseguiu decidir.
Acompanho o debate sobre a prova do Enem com profundo interesse e com a certeza de que o equilíbrio e a isenção precisam sempre ser buscados, mesmo que os atingir na plenitude seja impossível. Basicamente, com transparência e honestidade intelectual. Uma coisa é querer medir o que o aluno sabe. Outra, é que ele saiba apenas o que a minha visão de mundo considera importante.
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