quinta-feira, 3 de outubro de 2013


03 de outubro de 2013 | N° 17572
ARTIGOS  Lucas Maróstica*

Nenhum passo atrás: outros junhos virão

As Jornadas de Junho seguem reverberando no cenário político brasileiro. A tomada das ruas pela população indignada e a vitória na redução das tarifas de ônibus, aliadas à nacionalização das mobilizações, fizeram com que estudantes e trabalhadores sonhassem mais alto. O dinheiro investido pelos governos na Copa do Mundo da Fifa trouxe à tona a realidade de um país rico, mas cruel em sua desigualdade social.

A truculência das ações repressoras promovidas pelo Estado durante as manifestações mostrou a desconexão entre os palácios e as praças, escancarando a política para os abastados promovida pelos governos de Fortunati, Tarso e Dilma.

Com o diálogo aberto pelos movimentos sociais, setores desfavorecidos de nossa sociedade elevaram sua consciência política e passaram a ser sujeitos de sua própria história. Foram às ruas apontando um novo caminho para o Brasil. A grande lição de junho é o entendimento de que somente mobilizados, juntos e aos milhares teremos força suficiente para construir o futuro que almejamos.

Após o grande levante, a repressão por parte dos governos aumentou. No Rio Grande do Sul, não foi diferente. Nesta semana, chegamos ao ápice da perseguição promovida pelo governo Tarso. Meu apartamento, bem como os de outros manifestantes e organizações ligadas ao Bloco de Lutas pelo Transporte Público, foi invadido pela Polícia Civil. Computadores, livros, panfletos, adesivos e até mesmo cartazes foram levados. Encontrei a casa revirada, com materiais espalhados pelo chão e a sensação conjunta de impotência e revolta.

Um governo que se propunha a ser diferente dos anteriores na relação com os movimentos sociais passa a ser marcado pelo autoritarismo e a lembrança de prática dos tempos de ditadura, com perseguição ideológica e acusação de formação de quadrilha para os que se mobilizam.

Para além de demandas claras e objetivas que levamos para as ruas, junho também serviu para resgatar um sentimento que há muito tempo havia se perdido: o orgulho do povo brasileiro em interferir nos rumos do país e construir uma sociedade diferente. Envolvidos numa rea-lidade distante das mazelas do povo, as respostas dos governantes foram insuficientes e arbitrárias.

Dizem que ouviram a “voz das ruas”, mas se pensam que nos contentamos em ver no horário eleitoral propostas de campanha requentadas, estão muito enganados. Despertamos. As reivindicações não foram esquecidas. Outros junhos virão pela frente. A primavera apenas começou.


*ESTUDANTE DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UFRGS, INTEGRANTE DO COLETIVO JUNTOS!

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