terça-feira, 4 de novembro de 2025

 

A Linguagem dos Abraços

Há gestos que dizem mais que mil palavras, e há silêncios que se tornam poesia quando transformados em abraço. O abraço é, talvez, o idioma mais antigo da ternura - aquele que nasceu antes mesmo das letras e que ainda hoje traduz o que a boca não consegue pronunciar.

Tem abraços de todo jeito, todo tamanho, e que significam tantas coisas... há os que acolhem, os que despedem, os que selam reencontros e os que eternizam despedidas. Cada abraço é um instante sagrado em que duas existências se tocam e, por um breve momento, o mundo parece caber entre dois corações que batem no mesmo compasso.

Há o abraço que diz: “Sou muito feliz porque tenho a sua amizade.” Esse é o abraço leve, quase infantil, que floresce entre risadas e cumplicidade. É aquele gesto despretensioso que dissolve distâncias, como se o tempo e a saudade se rendessem à pureza de um afeto sincero.

E há também o abraço que murmura: “Tenho orgulho de você.” Ele é mais firme, mais cheio de alma. É o abraço que traz consigo o reconhecimento do caminho trilhado, das lutas vencidas, dos sonhos que não se deixaram morrer. Nele, há um brilho de admiração e respeito, como se o coração do outro fosse um espelho que reflete conquistas.

Existem abraços ainda mais raros, aqueles que dizem sem dizer: “Não existe no mundo ninguém como você.” São abraços únicos, carregados de saudade, de encanto e de ternura. Eles têm o poder de suspender o tempo e fazer do instante algo eterno.

Há também o abraço manso, que consola. Ele chega devagar, como uma brisa, e se demora o quanto for preciso. É o abraço do “sinto muito”, aquele que não promete resolver a dor, mas promete companhia até que ela se torne mais suportável. É o abraço que entende que, às vezes, estar presente é o maior dos gestos de amor.

Tem o abraço de urso, aquele que quase esmaga, mas faz a alma sorrir de tão viva. E há o abraço grande, o “abração” que é pura efusão de alegria, um grito de contentamento transformado em gesto. Todos eles têm suas razões, suas linguagens próprias, seus instantes de verdade.

Mas há um tipo de abraço que transcende todos os outros - aquele que, sem precisar de presença física, ainda diz: “Estou sempre pensando em você.” É o abraço enviado pelo pensamento, aquele que viaja na lembrança, que chega sem corpo, mas com toda a emoção de quem sente de verdade. Esse é o abraço da alma, o que nasce da saudade e vive na esperança do reencontro.

E ainda que o tempo passe, que as prioridades mudem, que as ausências se multipliquem, há sempre um abraço reservado para quem permanece dentro da gente. Mesmo quando o outro não percebe, quando se distrai com a pressa do mundo, quando nos relega a planos distantes - ainda assim, o coração prepara o gesto e o envia silenciosamente, como um recado de amor sem destinatário certo.

Porque, no fundo, todo abraço é uma forma de eternidade. Ele é o instante em que o amor deixa de ser apenas sentimento e se torna presença. É o milagre cotidiano de dois mundos se encontrando, ainda que por segundos.

E talvez seja por isso que, em meio à correria dos dias e à pressa das horas, nada aquece mais que o simples ato de se permitir abraçar - e ser abraçado.

Nenhum comentário: