A Linguagem dos Abraços
Há gestos que dizem mais que mil palavras, e há
silêncios que se tornam poesia quando transformados em abraço. O abraço é,
talvez, o idioma mais antigo da ternura - aquele que nasceu antes mesmo das
letras e que ainda hoje traduz o que a boca não consegue pronunciar.
Tem abraços de todo jeito, todo tamanho, e que
significam tantas coisas... há os que acolhem, os que despedem, os que selam
reencontros e os que eternizam despedidas. Cada abraço é um instante sagrado em
que duas existências se tocam e, por um breve momento, o mundo parece caber
entre dois corações que batem no mesmo compasso.
Há o abraço que diz: “Sou muito feliz porque
tenho a sua amizade.” Esse é o abraço leve, quase infantil, que floresce
entre risadas e cumplicidade. É aquele gesto despretensioso que dissolve
distâncias, como se o tempo e a saudade se rendessem à pureza de um afeto
sincero.
E há também o abraço que murmura: “Tenho orgulho
de você.” Ele é mais firme, mais cheio de alma. É o abraço que traz consigo
o reconhecimento do caminho trilhado, das lutas vencidas, dos sonhos que não se
deixaram morrer. Nele, há um brilho de admiração e respeito, como se o coração
do outro fosse um espelho que reflete conquistas.
Existem abraços ainda mais raros, aqueles que dizem
sem dizer: “Não existe no mundo ninguém como você.” São abraços únicos,
carregados de saudade, de encanto e de ternura. Eles têm o poder de suspender o
tempo e fazer do instante algo eterno.
Há também o abraço manso, que consola. Ele chega
devagar, como uma brisa, e se demora o quanto for preciso. É o abraço do “sinto
muito”, aquele que não promete resolver a dor, mas promete companhia até
que ela se torne mais suportável. É o abraço que entende que, às vezes, estar
presente é o maior dos gestos de amor.
Tem o abraço de urso, aquele que quase esmaga, mas
faz a alma sorrir de tão viva. E há o abraço grande, o “abração” que é pura
efusão de alegria, um grito de contentamento transformado em gesto. Todos eles
têm suas razões, suas linguagens próprias, seus instantes de verdade.
Mas há um tipo de abraço que transcende todos os
outros - aquele que, sem precisar de presença física, ainda diz: “Estou
sempre pensando em você.” É o abraço enviado pelo pensamento, aquele que
viaja na lembrança, que chega sem corpo, mas com toda a emoção de quem sente de
verdade. Esse é o abraço da alma, o que nasce da saudade e vive na esperança do
reencontro.
E ainda que o tempo passe, que as prioridades
mudem, que as ausências se multipliquem, há sempre um abraço reservado para
quem permanece dentro da gente. Mesmo quando o outro não percebe, quando se
distrai com a pressa do mundo, quando nos relega a planos distantes - ainda
assim, o coração prepara o gesto e o envia silenciosamente, como um recado de
amor sem destinatário certo.
Porque, no fundo, todo abraço é uma forma de
eternidade. Ele é o instante em que o amor deixa de ser apenas sentimento e
se torna presença. É o milagre cotidiano de dois mundos se encontrando, ainda
que por segundos.
E talvez seja por isso que, em meio à correria dos
dias e à pressa das horas, nada aquece mais que o simples ato de se permitir
abraçar - e ser abraçado.

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