quarta-feira, 19 de novembro de 2025


19 de Novembro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Caso Master terá impacto político e econômico

Liquidação de um banco do porte do Master não era vista desde os anos 1990, quando o Banco Central (BC) fez um programa extenso para dar solidez ao sistema financeiro nacional. Com prisão do proprietário, Daniel Vorcaro, é ainda mais rara. Nesse segmento sensível, há impactos visíveis e não tão claros.

A decisão do BC significa que será acionado o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para operações de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, para compensar quem tinha aplicações no Master. Acima, haverá perdas para investidores e outras instituições financeiras. O mais impactado é o BRB, o Banco de Brasília. Seu presidente, Paulo Henrique Costa, e o diretor financeiro, Dario Oswaldo Garcia Júnior, já foram afastados do cargo.

Para justificar seis prisões e 25 mandados de busca e apreensão, a Polícia Federal (PF) apontou operações fraudulentas: o Master falsificaria créditos. Um dos casos é o de um imóvel no interior da Bahia, avaliado em R$ 100 milhões no banco, mas que valia R$ 1 milhão.

Parlamentares ensaiaram demitir diretor do BC

O ensaio de venda do Master ao BRB seria uma tentativa de cobrir o rombo entre ficção e realidade. Liquidações são raras por envolver muitas perdas. Uma das preocupações é com sistemas de previdência complementar de Estados e municípios. Um caso é a Rioprevidência, do Estado do Rio, que investiu no Master mesmo com alertas sucessivos sobre o risco do TCE fluminense.

Haverá, ainda, impacto político, tanto pelo BRB quanto do Master, que tinha aliados capazes de pressão e chantagem. O episódio mais público foi um projeto no Congresso que permitia a demissão de diretor do BC, que avaliava a venda. É bom lembrar as digitais da iniciativa: o deputado Claudio Cajado (PP-BA) apresentou um pedido de urgência na votação com apoio de líderes de MDB, PP, União Brasil, PL, PSB e Republicanos. Não passou, e o BC vetou a venda.

A operação da PF se chama Compliance Zero. Usa uma palavra em inglês que designa o conjunto de práticas que garantem o cumprimento de leis, regulamentos, normas éticas e políticas internas. E sugere que, no Master, era "zero". _

O caso Master não provocou (ainda) muito estrago no humor do mercado. O dólar até recuou 0,26%, para R$ 5,318, com pouca convicção, porque investidores ainda esperam dados econômicos dos EUA atrasados pelo shutdown.

Norueguesa volta a "ouvir" litoral do RS

Até o final desta semana, um dos navios sísmicos mais avançados do mundo chegará ao porto de Rio Grande. A Shearwater, empresa com sede na Noruega especializada em mapear o subsolo marítimo para tentar encontrar acumulações de petróleo e gás, vai retomar sua atividade no litoral gaúcho no início de dezembro.

Em comunicado publicado ontem, a companhia afirma que vai começar a terceira temporada de obtenção de dados na Bacia de Pelotas, em parceria com a Searcher Seismic. A previsão é concluir no segundo trimestre de 2026.

O navio usado na operação será o SW Empress, com 122 metros de comprimento - equivalente a uma quadra - e 22 metros na parte mais larga.

A área de sísmica 3D é de 17,3 mil quilômetros quadrados, mais ao sul do Rio Grande do Sul. A menor distância da costa é de cerca de 156 quilômetros em relação a Santa Vitória do Palmar.

Outra empresa, a TGS, também se prepara para começar a pesquisar ainda neste ano, com previsão de se estender até o terceiro trimestre de 2026. Nesse caso, a área é de 14,8 mil km2, só na fatia catarinense da Bacia de Pelotas.

A sísmica 3D é um exame do subsolo marítimo comparável a uma ultrassonografia. Emite ondas de som que "batem" no fundo do mar e "ecoam" de forma diferente conforme a formação geológica. Permite identificar potenciais locais para perfuração futura. _

A "origem gaúcha" de braço do Master

Ainda não existem provas, mas há suspeitas de que teria vazado a Operação Compliance Zero, da Polícia Federal (PF), com seis mandados de prisão e 25 de busca e apreensão. O precipitado anúncio de venda das operações, feito na segunda-feira, teria sido uma tentativa de evitar a liquidação do banco que ocorreu ontem.

O plano era vender três divisões: o Master SA ficaria com a Fictor e investidores árabes - a alegação de Daniel Vorcaro para pegar um jatinho em Guarulhos foi ir até Dubai -, o digital (willbank) ficaria com o fundo soberano de Abu Dhabi, o Mubadala, e o Banco Master de Investimento (BMI) ficaria com dois grupos de investidores, um do Reino Unido e outro de acionistas também árabes.

Esse braço do Master teve "origem gaúcha", como relatou à coluna, em 2023, o então diretor-executivo de investment banking do banco, Reinaldo Hossepian. O BMI nasceu com a compra da licença de funcionamento do Banco Vipal, do grupo de Nova Prata, em 2021. O BMI fez questão de abrir em Porto Alegre sua primeira unidade fora de São Paulo. Muitos clientes gaúchos podem precisar recorrer ao Fundo Garantidor de Crédito (FGV) para compensar eventuais perdas. _

Surge nova pedra no caminho do acordo Mercosul-UE

Embora o governo brasileiro flerte com a ideia de formalizar o acordo entre Mercosul e União Europeia até o final do ano, surgiu uma nova pedra nesse caminho. O governo Donald Trump fez um acordo comercial com a Argentina. Uma das regras do bloco do qual o Brasil faz parte é que esse tipo de acerto com países não integrantes precisa ser referendado por todos.

Em outubro, conforme a Câmara Argentina de Comércio e Serviços (CAC), o intercâmbio com o Brasil caiu mais 3,5%. O maior peso foi da venda argentina, que despencou 13,5% na comparação entre o mês passado e outubro de 2024, ficando estagnada em relação a setembro deste ano. Já a exportação brasileira cresceu 5,8% ante outubro do ano passado, ainda assim 9,6% menores do que as do mês anterior.

Essa é a essência do Mercosul: todos os integrantes precisam aplicar as mesmas tarifas para produtos importados de outros países. A regra é uma das mais consolidadas e prevê sanções em caso de descumprimento. É base, também, das negociações com a União Europeia. Ainda faltam detalhes, mas quem acompanha o tema de perto vê risco de que a pedra seja do tamanho que fecha o caminho. _

GPS DA ECONOMIA

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