17 de Novembro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo Marta Sfredo
Respostas capitais
"Os americanos vão ver o impacto total das tarifas no próximo ano"
Michael Traub
CEO da Stihl, multinacional alemã de ferramentas motorizadas cuja unidade no Brasil fica em São Leopoldo e que, em 2025, deve faturar R$ 4 bilhões
O alemão Michael Traub fez há poucos dias visitas a três unidades das Américas - EUA, Brasil e Argentina, onde a empresa completa 25 anos. A Stihl concentra a produção de alguns insumos em um só país, como ocorre com os cilindros no Brasil e as correntes na Suíça, que tinha alíquota de 39% até o dia 14. O CEO global pondera que a empresa tem cem anos, e o governo nos EUA, quatro.
Como está a Stihl no Brasil?
A empresa no Brasil agora tem esse novo papel de cuidar da América Latina. E vai para uma fase de crescimento forte. Nosso cliente pode escolher se quer equipamentos a bateria ou a combustão. A América Latina tem papel de crescer em combustão. A participação no faturamento mundial da Stihl é de 14%. Nosso maior mercado é América do Norte, o segundo é a Europa e o terceiro é a América Latina.
Haverá novos investimentos?
Estão sendo feitos, teremos novas linhas que avaliamos, com produtos muito interessantes, inovadores. Também tem projetos de pesquisa e desenvolvimento, porque a turma daqui não só cuida do Brasil, também tem um papel mundial no desenvolvimento de produtos para mercados emergentes. Temos 80 pessoas aqui só em P&D, 10% do pessoal mundial de desenvolvimento está aqui no Brasil.
Qual o impacto do tarifaço sobre cilindros de motores, feitos só no Brasil?
É a única fábrica que produz cilindro para todas as unidades no mundo. Na Stihl, acreditamos em mercados livres. Temos 44 subsidiárias e vendemos em 160 países. Celebramos cem anos em 2026, e governos trocam a cada quatro. Nada é para sempre. Mas o aumento de tarifas a 50% significa que o produto final nos EUA teve de ser aumentado. Confiamos no Brasil para essa produção e não vamos mudar para os EUA.
Seja qual for o resultado das negociações com os EUA?
Falei muito com representantes do governo nos EUA. Temos uma grande fábrica, com 3 mil funcionários, e represento a Stihl em várias instituições americanas. Nosso conteúdo local é de 60%, mas importamos aço, baterias, semicondutores. Significa forte pressão para elevar preço. Mas todos os políticos com quem falei têm visão que tarifas são boas. No final, o consumidor vai pagar.
Alta de preço não é avaliada pelo governo americano?
Os americanos vão ver o impacto total das tarifas no próximo ano. Sempre atrasa. Agora todo mundo está avaliando. Já tivemos dois aumentos de preços, em 7% em julho e agora 4% em novembro. Dois reajustes em um ano nos EUA é algo que nunca fizemos. E provavelmente haverá mais. O próximo será um ano muito desafiador.
? Tem expectativa sobre as negociações com o Brasil?
O Brasil não merece ser tratado dessa forma, sendo, como país, forte aliado do mundo ocidental. Por isso, 50% de tarifa não é um número que eu entenda. E o Brasil não é o único que preocupa. Temos na Suíça uma fábrica para correntes também única no mundo. Fui lá e disse: ?É na Suíça e vai ficar na Suíça?. O mundo cresceu porque as tarifas foram retiradas. Com cada mercado com a sua especialização, por isso funciona. Isso se faz melhor no Brasil, aquilo se faz melhor na Suíça. E tudo junto dá uma redução de custo para a indústria.
A Stihl foi para a Romênia por custos altos na Alemanha. A expansão tende a ser global?
Estamos crescendo esse ano, entre 4% e 5% em nível mundial. Estamos satisfeitos, mas nos preparamos para um 2026 muito difícil. Inauguramos na Romênia em 15 de outubro. Também temos uma grande fábrica na China, que produz 3,5 milhões de unidades no ano. Sempre falamos em ?China speed? (rapidez da China). Essa turma vai desenvolver softwares. Vamos produzir lá os cortadores de grama robôs. Acreditamos que em 2030, 2040, o robô vai ser a principal forma de cortar grama nos mercados desenvolvidos.
É essencial estar na China?
Acreditamos que só na China temos condições para desenvolver os produtos para a próxima geração. Os chineses são concentrados, rápidos e produtivos. Morei no Brasil e sempre adorei que os brasileiros têm alta criatividade. Nossas fábricas na Alemanha fazem produtos altamente profissionais. O Brasil produz médios. A China faz produtos de entrada, com alto volume e preço menor.
Onde é a unidade na China?
Nossa fábrica é em Xingdao (ou Qingdao), uma cidade de 10 milhões de habitantes, e o prefeito disse que todo mundo gosta de lá porque é pequena. Existe cultura alemã, tem cerveja, um pequeno bairro alemão (região foi concedida de 1898 a 1914).
Por que a Stihl vende motosserra e tem foco ambiental?
Temos orientação muito forte para reduzir CO2. Estamos nos esforçando para alcançar a neutralidade climática. A Stihl nasceu com motosserras para facilitar a vida do homem na floresta, no campo, mas hoje na Europa já se planta há muitos anos para colher. A terceira geração da família Stihl tem forte orientação para sustentabilidade.
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