OPINIÃO RBS
Libertados do jugo do crime
Ainda que não exista comparação entre o grau de domínio territorial exercido por traficantes em comunidades do Rio de Janeiro e a atuação de facções gaúchas, causa espanto o caso que levou a uma operação da Polícia Civil, ontem, em São Leopoldo. A ação prendeu oito pessoas e cumpriu mandados de busca e apreensão para desarticular um núcleo criminoso que há cinco anos controlava o condomínio popular Vila Germânica, no bairro Santos Dumont.
Assim como nos morros cariocas, o grupo era vinculado a uma facção e impunha medo aos moradores, para que não reagissem à dominação. Extorquiam e ameaçavam os residentes. Algumas pessoas, temendo represálias, deixaram de viver no local. O controle, formalmente, era praticado pelo síndico, vinculado à organização. Ele utilizava as contas do condomínio para lavar o dinheiro do tráfico de drogas. As cotas condominiais eram recolhidas, mas não era paga, por exemplo, a fatura de água para a companhia de saneamento. O dinheiro era desviado para financiar atividades criminosas. Até a empresa de vigilância que prestava serviço para o Vila Germânica pertencia a uma pessoa ligada à organização.
A situação do condomínio de São Leopoldo não é única. Já vieram a público outros casos de conjuntos habitacionais populares onde traficantes se instalaram e passaram a impor terror aos moradores, apossando-se até de apartamentos. A situação do Vila Germânica, ao que parece, difere pelo uso das finanças do condomínio para dissimular o capital amealhado com outros negócios ilícitos.
Merece registro que a origem da operação vigorosa de ontem, fruto de três meses de investigações da 2ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo, está na decisão corajosa dos moradores de não mais se submeterem ao jugo da facção. A reviravolta ocorreu a partir da morte do síndico, em agosto. Outro homem atrelado ao grupo criminoso quis herdar o posto, o que gerou revolta dos condôminos e a determinação para convocar uma assembleia e indicar um administrador profissional. A partir daí, a tentativa de coagir e ameaçar os moradores recrudesceu. Por segurança, a reunião para eleger o novo síndico ocorreu no Fórum da cidade.
Espera-se que a ofensiva policial ponha fim nos anos de opressão e que os moradores do Vila Germânica voltem a tocar o dia a dia sem receios. É preciso eliminar não apenas a ingerência da facção sobre a administração do condomínio, mas qualquer outro tipo de influência que atrapalhe a convivência pacífica entre os vizinhos. Para isso, é necessário manter um contato estreito com as forças de segurança do Estado.
O episódio de São Leopoldo é apenas mais um a ilustrar o caráter maléfico do crescimento e da capilarização das facções, o que exige um combate sem trégua das instituições gaúchas e nacionais. Trata-se de um dos grandes desafios atuais do país. São grupos que, muito mais do que traficar drogas, mantêm tentáculos em uma série de outras atividades ilícitas, são transnacionais e tentam se entranhar no poder público e se inserir na economia formal. Seus braços menos sofisticados se encarregam de espalhar medo e atormentar os cidadãos honestos, preocupados apenas em cuidar de suas famílias e viver em paz.
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