quarta-feira, 12 de novembro de 2025


12 de Novembro de 2025
MÁRIO CORSO

Recessão de relacionamentos

O título acima provém de um artigo da revista The Economist (The relationship recession). Ele aborda o declínio global de relacionamentos românticos estáveis. Essa tendência remodela a sociedade, o padrão de consumo e, portanto, a economia.

Os motivos apontados são dificuldades financeiras e mudanças de prioridade. Os jovens preferem apostar na formação e na carreira, ou mesmo na busca de mais e melhores experiências amorosas, adiando casamento e filhos para um depois que nem sempre vem.

São parte da equação os aplicativos de namoro que criam a cultura da conexão descartável; onde a abundância de oferta, contraintuitivamente, atrapalha o compromisso.

A situação é dramática no Japão e na Coreia do Sul. Nos EUA, os adultos americanos sem relacionamento estável subiram, em uma década, de 29% para 38%. Lá, considerando adultos jovens (até 35 anos), 50% não têm relacionamentos estáveis. No Brasil, o número de solteiros ultrapassa o de casados desde 2012.

A revista aponta entre as causas a cultura do individualismo, que valoriza a autossuficiência e a liberdade social acima dos compromissos da família tradicional. Nesse caso, eu acrescentaria, o individualismo não é de hoje, porém, nós entramos numa fase de hiperindividualismo.

Para o sujeito contemporâneo, como tudo que lhe é próprio tem demasiado valor, suas idiossincrasias são seu ser. As falhas deixam de ser imaturidade para se converter em estilo. Alguém que venha a conviver teria que aturar suas manias, chatices, dificuldades sociais. Funciona como se ele estivesse pronto e ninguém pudesse macular seu precioso ego. Quanto maior o ego, menor a plasticidade social.

Nessa combinação não existe soma, apenas suposta subtração de si quando se relacionam. Porém, amores são experiências contínuas de compreender as diferenças, respeitá-las, e de negociações em que um acrescenta ao outro e se transforma pelo convívio; sem necessariamente produzir o apagamento ou a submissão de qualquer um dos envolvidos. O amor sobrevive do que ambos vão se transformando juntos. Amar é tornar-se o fruto de um destino vivido a dois. Há premissa mais incompatível com o individualismo do que essa? 

MÁRIO CORSO

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