
28 de Novembro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo
Sonegação de R$ 26 bi une Lula e Tarcísio
Uma das duas únicas refinarias criadas antes da Petrobras é um dos principais ativos do grupo Refit, alvo da megaoperação que une vários órgãos do governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas, e outros do governo Lula. O que liga dois possíveis adversários na eleição de 2026 é um poderoso aglutinador: prejuízo estimado em R$ 26 bilhões aos cofres públicos - cerca de um terço da arrecadação anual do RS.
O grupo comandado por Ricardo Magro é o maior devedor de ICMS de São Paulo e do Rio e um dos maiores da União. Para não quitar esses pagamentos, costumava usar liminares judiciais e programas de prorrogação de dívida. Entre as acusações, sustentada pela Receita Federal e pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), está a de que a Refit importaria combustíveis em vez de refinar petróleo. Quatro navios foram apreendidos em setembro, com 200 milhões de litros trazidos de forma irregular da Rússia.
Atuação em finanças semelhante à do PCC
A partir disso, a forma de atuação do grupo seria semelhante à do PCC no mercado de combustíveis exposta pela operação Carbono Oculto, com uso de fintechs e fundos de investimento para lavar dinheiro. O aspecto antipolarização é representado pela abrangência dos órgãos que atuam: seis órgãos do governo Tarcísio em SP e dois do governo Lula. Mas se houve convergência entre o governo de SP e o federal, até há poucas semanas existia um embate com o governo do Estado do Rio. A refinaria havia sido interditada, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro liberou, e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) voltou a suspender. Ainda há ligações políticas: Magro foi advogado do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e teria conexões com outros parlamentares.
Foram bloqueados R$ 8,9 bilhões pela Justiça de SP e R$ 1,2 bilhão pela federal. A expectativa é de que a ação ajude a destravar o projeto contra devedores contumazes que está parado na Câmara dos Deputados. Para ser colocado em apreciação, precisa de uma decisão do presidente da Casa, Hugo Motta Hugo Motta (Republicanos-PB). _
Como o Dia de Ação de Graças fechou os mercados dos EUA, o dólar operou sem direcionadores claros e avançou 0,32%, para R$ 5,352, ontem. A bolsa oscilou 0,12% para baixo e estacionou em 158,3 mil pontos, perto do recorde.
Vagas em Rio Grande podem subir a 2,9 mil
A vitória na licitação de navios gaseiros já era uma possibilidade em outubro, quando o CEO da Ecovix, Robson Passos, deu entrevista à coluna. Na época, sua projeção para a ampliação na geração de postos de trabalho era de 1,6 mil para 2,9 mil no pico das obras. Sobre o que significaria para a movimentação na construção naval em Rio Grande, ele havia afirmado:
- Significa o processamento de cerca de mais 30 mil toneladas de aço para processar em 57 meses, além dos 20 mil do primeiro. A ocupação subiria de 10% para cerca de 20% no pico e a mobilização de 2,9 mil trabalhadores no total.
Há pouco mais de um mês, Passos também avaliou que existe mão de obras disponível e treinada para dar conta dessa demanda:
- No passado, a Ecovix e outros estaleiros capacitaram pessoas. Parte era de fora e migrou de setor por conta da crise. Mas posso afirmar que hoje em Rio Grande temos 5 mil metalúrgicos desempregados que precisam ser ocupados.
Como é a retomada
A Transpetro, empresa de logística da Petrobras, está fazendo licitações para a construção de 25 navios para a estatal. Conforme seu presidente, Enio Bacci, a retomada da construção naval está sendo feita de forma cautelosa, para evitar a repetição de erros do passado.
A Ecovix havia vencido a primeira disputa, para fazer quatro navios do tipo handy, com contrato ao redor de R$ 1,5 bilhão. Agora, também ganhou parte da segunda, com valor aproximado semelhante. _
Estamos falando de R$ 320 milhões. É como se subtraísse da população um hospital de médio porte por mês.
Tarcísio de Freitas
Governador de São Paulo, dando não só escala a valores que podem parecer abstratos como traduzindo o tamanho do estrago feito por megaoperações de sonegação como o da Refit, que chegava a R$ 320 mihões por mês só no seu Estado.
Indústria fecha 5,7 mil empregos
O RS perdeu 5,7 mil empregos em outubro, terceiro mês do tarifaço dos EUA sobre produtos brasileiros, conforme dados do Novo Caged, atualizados ontem.
Ao todo, foram 27 mil contratações e 32,7 mil demissões no período. O saldo representa o pior resultado para o mês desde 2020, ano de criação do Novo Caged, afetado pela pandemia. Os setores de tabaco e couro e calçados puxaram a queda.
No acumulado dos três meses de tarifaço, o RS fechou 11,8 mil postos de trabalho. O recuo de Donald Trump na taxa sobre alimentos só vai impactar os números de novembro. E ainda assim de forma discreta, já que alguns dos produtos gaúchos que mais pesam na exportação para os EUA seguem com tarifa de 50%. A queda no emprego é resultado não só do tarifaço, mas também da desaceleração da atividade econômica por efeito do juro alto. Considerando dados nacionais, a indústria brasileira perdeu 10,1 mil empregos em outubro. _
setores saldo
Tabaco -2.612
Couro e calçados -1.063
Máquinas e equip. -735
Veículos e carrocerias -412
Produtos de metal -297
Haddad dá spoiler sobre "mistérios" do Master
As fraudes do banco Master já provocaram prejuízos a clientes que aceitaram o risco e mesmo a precavidos usuários do Sistema Financeiro Nacional pelo custo imposto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Ainda antes da liquidação do banco, já havia provocado efeitos que ainda estão por ser revelados.
Em rara quebra de sua habitual discrição, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu detalhes sobre o caso.
- O presidente do Banco Central recebeu uma herança difícil do ponto de vista regulatório, que envolvia tanto fintechs quanto o Master - disse Haddad em entrevista à Globonews.
Segundo o ministro, havia risco ao Tesouro, já que um terço do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é de bancos públicos. Logo depois do anúncio de venda do Master ao Banco de Brasília (BRB), o Conselho Monetário Nacional (CMN) apertou as regras do FGC para desencorajar práticas agressivas de captação.
Haddad ainda mencionou o inesperado pedido de demissão do presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro Nascimento. Antes da liquidação do Master, a "xerife do mercado financeiro" investigava as práticas do banco.
- O pedido de demissão do presidente da CVM ocorreu em ambiente muito tóxico, que gerou muita especulação e foi objeto até de uma conversa minha com o procurador-geral da República - relatou Haddad.
Na época, a especulação era de que Nascimento teria enfrentado pressões de integrantes do Congresso Nacional e de agentes econômicos no caso do Master. _
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