
17 de Novembro de 2025
Imersão aos olhos de Sebastião Salgado
Desde antes desta cobertura da COP30 começar, tenho dito que, se tudo der errado, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas já terá cumprido o seu papel de revelar ao mundo o tema mais comentado nos eventos sobre ambiente e menos conhecido de verdade: a Floresta Amazônica, um dos principais motores climáticos do planeta.
Belém tem oportunizado essa experiência em vários sentidos: seja nas ruas, seja nas imersões culturais organizadas à Ilha do Combu ou a que fiz por conta própria, em Cotijuba, nos banhos de rio, nas ervas, nos saberes que estão por toda parte.
Mas quem deseja um rápido aprendizado sobre a maior floresta tropical do mundo tem essa chance ao visitar o Museu das Amazônias, onde estão exibidas imagens do maior de todos os fotógrafos brasileiros, Sebastião Salgado.
Estive ali no reformado Porto Futuro, no sábado, e pude entender, com profundidade, a razão de Amazônia ser tão importante para o mundo. Na verdade, a gente sempre aprendeu isso nos livros das escolas, nas reportagens, nas experiências de viagens, mas o que Salgado faz é tocar, com seu preto e branco nevrálgico, os sentimentos. Imensidão, urgência, finitude do humano foram sensações que me afligiram de imediato.
Várias Amazônias
O primeiro ponto a entender é: por que o Museu se chama das Amazônias? Afinal, não é uma floresta só? Não, e aí você começa a desconstruir tudo: não é homogênea, contínua ou igual em toda a sua extensão. O termo no plural reconhece que a região é formada por vários territórios, realidades, povos, ecossistemas e dinâmicas socioeconômicas diferentes.
Para além das fronteiras geográficas - a Amazônia está, além do Brasil, em oito países; mas tem a Amazônia urbana (Belém e Manaus são metrópoles de milhões de habitantes) -, há a Amazônia das hidrelétricas, da mineração (Carajás, garimpo), da fronteira do desmatamento, das ilhas e dos rios, do açaí e da bioeconomia. Há também a Amazônia preservada, desmatada, em regeneração, urbanizada.
Um dos grandes aprendizados na exposição aparece nas sombras das fotos do grande Salgado: a evaporação a partir da floresta, as nuvens, os rios voadores. As árvores gigantes, como a sumaúma, lançam na atmosfera toneladas de água por dia, que alimentam o sistema dos rios voadores que irrigam o Centro-Oeste e o sul do Brasil e sustentam a economia agrícola.
Salgado nos deixou em maio deste ano, a tão poucos meses da COP30. Logo ele que tanto conheceu a floresta e teria tanto a nos dizer. Ou melhor, mostrar. Mostrou. Seu legado está aqui, vivo. E mudando mentes.
Na Green Zone
A coluna separou cinco curiosidades sobre a Green Zone, a área de acesso gratuito da COP30, que combina participação popular com empresas de tecnologia e inovação. _
Cinco curiosidades
Você encontra muitos indígenas levantando suas bandeiras nas pautas ambientais e vendendo seus produtos artesanais. Os grupos participam de debates lado a lado com empresários e representantes do poder público.
No espaço da Itaipu Binacional, é possível entrar em uma cabine de realidade virtual e fazer uma imersão em como se dá a transformação da água em energia elétrica.
O pavilhão do Brasil Biomarket é um espaço onde os visitantes podem conhecer produtos como pólen de abelha sem ferrão, farinha de mandioca do Pará, grãos de açaí do Amazonas desidratados e moídos, xampu nutritivo, bioesfoliante a partir de andiroba, entre outros. É um mergulho nas origens, sabores, saberes e inovações que transformam a biodiversidade do Brasil em impacto positivo.
Um caminhão que a gaúcha Be8 trouxe do RS, a partir do uso do combustível BeVant, chama a atenção dos visitantes. Durante a COP, a Be8 assinou um contrato para a implantação do primeiro posto de abastecimento de hidrogênio verde no RS.
Uma companhia alemã, a Green Dome Trading, apresenta um sistema de estufas revolucionárias, projetadas para prosperar em ambientes extremos, de calor ou frio.
Entrevista - Domingos Lopes - Presidente da Farsul - "Somos a mais sustentável agricultura do mundo"
Além da Green Zone e da Blue Zone, uma das atrações da COP30 é a AgriZone, um espaço para o agronegócio. A coluna conversou com o presidente eleito da Farsul, Domingos Velho Lopes.
Qual a importância de um espaço desse na COP30?
A atividade agrossilvipastoril se tornou parte da solução desde a COP de Glasgow, quatro anos atrás, quando o seu presidente, Alok Sharma, determinou a formação do Grupo Koronivia, que trouxe as atividades agropecuárias para parte da solução das questões do aquecimento global e nada mais, nada menos, que a ONU buscou no Brasil, através do nosso programa de agricultura de baixo carbono, que nasceu no RS, como pauta precursora e principal exemplo. A ONU buscou a formação mundial das atividades agrossilvipastoril, que devem ser utilizadas no mundo para atividades resilientes, sustentáveis e produtivas. E desde então, a pauta agrária, toda a questão da produção agropecuária e silvícola, se tornou parte da solução.
Um estudo divulgado diz que a cada hectare cultivado, o Brasil mantém dois hectares com vegetação nativa. A imagem do agro poluente mudou?
Quem trata assim a pauta ambiental é política. Nós tratamos ela como ciência e tecnologia. E o Brasil é o modelo de sustentabilidade. E esse trabalho da Embrapa, lançado no primeiro dia aqui em Belém, na AgriZone, ratificado por toda a COP, pela ONU e pela FAO, ele é o exemplo disso: 66% do território brasileiro é de áreas preservadas. E 29%, ou seja, quase metade da área preservada, está dentro das propriedades. Das propriedades privadas, desde a agricultura familiar, passando pela média propriedade, e a agricultura empresarial. Então, nós somos o exemplo mundial preconizado pela COP, pela ONU. E isso tem que estar muito importante, trabalhado pela sociedade gaúcha e brasileira.
Como avaliam a proposta do governo do RS de redução de 90% das emissões de carbono no setor do agronegócio gaúcho até 2050?
Esse documento foi construído pela sociedade gaúcha, através de um trabalho realizado pela Diretoria do Meio Ambiente, a Diretoria do Clima, a qual a Farsul, a Fetag participaram ativamente. E ele é nada mais do que as atividades realizadas todos os dias para os nossos produtores, compiladas num documento e através de uma métrica de descarbonização. Nós conseguimos comprovar a nível internacional, o que somos, a melhor, mais resiliente, adaptada e sustentável agricultura do mundo. Precisamos tornar isso um ativo brasileiro e que a sociedade nacional tenha o orgulho desta pauta. _
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