terça-feira, 18 de novembro de 2025


18 de Novembro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Redução de tarifa não ajuda Brasil nem Trump

A isenção da "tarifa recíproca" - o nome é um equívoco tão grande quanto a medida, que não tem nada de mútua - não resolve o problema dos exportadores brasileiros, nem sequer os de produtos contemplados, como carne e café, os que mais pesam na balança comercial entre os dois países. Para o café, o imposto de importação caiu de 50% para 40% no caso do Brasil, mas concorrentes como Colômbia e Vietnã passaram a ter tarifa zero.

E se não resolve o problema brasileiro, a medida também não soluciona por completo o impasse de Trump. Ao menos até agosto, quando entrou em vigor o tarifaço de 50% imposto ao Brasil, o café nacional respondia por 30% das importações americanas. Colômbia e Vietnã eram o segundo e o terceiro colocados.

A Colômbia já exporta para os EUA 40% de sua produção. E comprou 567% mais café... do Brasil. Ou é triangulação ou é escassez doméstica. No Vietnã, até especialistas do país avaliam que levaria de um a dois anos para poder aproveitar a diferença tarifária.

Dúvida sobre eficácia para baixar inflação

A dúvida sobre a eficácia da medida de Trump é maior para a carne. Ainda antes do tarifaço, a Argentina havia aumentado a compra de carnes do Brasil para o nível mais alto de 2019. É resultado de aumento de preços interno - em junho, a carne subira 53% em relação ao mesmo mês do ano anterior, muito acima da inflação geral, de 39% na mesma base de comparação.

Um dos acordos de Trump com seu aliado Javier Milei prevê o aumento de compra de carne da Argentina, agora sem tarifa. Mas o preço está mais alto do que o do Brasil, e o movimento já causou protestos de produtores americanos. Difícil obter o resultado esperado de baixa de preços para o consumidor dos EUA.

Além disso, como só houve redução de alíquotas para alimentos, a pressão de alta de preços segue em diferentes segmentos. Em entrevista à coluna, o CEO da Stihl, Michael Traub, informou que a empresa teve de fazer algo raro nos EUA: dois aumentos em um só ano. Não deve ser um caso isolado, o que significa que podem vir novos recuos. E talvez Trump fique mais sensível à negociação com o Brasil. _

Agora grupo, Melnick pretende liderar MCMV no Estado

Com o lançamento de seu maior empreendimento em valor geral de vendas (VGV), de R$ 750 milhões, com 13 torres e até 3 mil unidades residenciais para o programa Minha Casa, Minha Vida, a Melnick marca nova fase: vai virar grupo, com quatro divisões. O projeto é o Parque do Arvoredo, no bairro Passo d?Areia, que lançou ontem sua primeira fase: Open Bosque.

- Começamos como construtora e estamos nos tornando um grupo de quatro empresas do mercado imobiliário. A jornada vai se consolidar em 2026 - detalha o CEO, Leandro Melnick.

As quatro são a incorporadora (1), a Melnick Partners, de parcerias dentro e fora do Estado (2), a Arcádia, para condomínios e loteamentos (3), e a Open, do segmento econômico (4).

- Fomos cautelosos, porque começamos com médio e alto padrão. A Open surgiu como uma espécie de startup, agora passa a ser um braço para se tornar, em alguns anos, a maior operadora desse segmento no Estado - avisa o empresário.

A Open vai atuar nas faixas 3 e 4 do MCMV, de renda de até R$ 12 mil mensais. Leandro avalia que esse mercado "não deslanchou" em Porto Alegre, entre outros motivos, porque é difícil encontrar terrenos bem localizados, com custo que se enquadre no valor.

- O que existe são empresas de menor porte ou focadas na faixa 2, como MRV ou Tenda. Falta nas 3 e 4. Como temos muitos terrenos que seriam para projetos de classe média, sem mercado por causa do juro alto, com a expansão da faixa 3 e a criação da 4, mais o achatamento da classe média, o MCMV deixou de ser para moradia popular e virou formato de financiamento, que está invadindo a classe média, no bom sentido. Vamos preencher essa lacuna de oferta - diz o empresário. _

Inflação e atividade murcham: e agora, BC?

Depois de 11 meses e meio acima, ontem o Relatório Focus trouxe projeção de inflação dentro da meta neste ano. A maioria dos economistas projeta que o IPCA feche o ano em 4,46%, um pouco abaixo do limite da margem de tolerância máxima, de 4,5%. Veio depois de uma surpresa positiva com uma inflação quase invisível (0,09%) em outubro.

E também ontem saiu o Indicador de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), com declínio de 0,24% em setembro e uma queda acumulada de 0,89% entre julho e setembro (trimestre móvel). É outro resultado esperado do juro básico nas alturas. E agora, quando sai o esperado corte da Selic?

Um dos problemas é que, agora, inflação que está na mira do BC é a de novembro de 2027. Esse é o "horizonte relevante", conforme a ata publicada na semana passada. Mas o fato de a expectativa do IPCA ter entrado para dentro da margem de tolerância já desmonta um dos discursos do Copom. O texto afirmava: "As expectativas de inflação (...)permanecem acima da meta de inflação em todos os horizontes".

Em um, não está mais. Mas o quanto inflação e atividade desaceleradas podem acelerar um corte de juro só será possível saber no comunicado da última reunião do Copom do ano, em 10 de dezembro. Se não contrariar expectativas mais uma vez. _

Pix já girou sete vezes o PIB do Brasil

Não passaram sem sustos os primeiros cinco anos do Pix - começou a ser usado sem restrições em 16 de novembro de 2020. Em julho, sua estrutura já foi alvo de um dos maiores ataques da história do Brasil.

Mas os dados mostram um claro sucesso: em dezembro, deve alcançar movimentação de R$ 7 bilhões em um mês. E somadas todas as operações, do início até agora, o Pix já girou R$ 84,9 trilhões, mais de sete vezes o PIB anual do país em 2024 (R$ 11,7 trilhões).

O BC afirma que o desligamento da plataforma de tecnologia do Drex não é seu fim, mas no sistema financeiro o diagnóstico veio antes: o real digital ficou no caminho tanto pelo sucesso quanto pela fragilidade exposta no Pix.

Com novas ferramentas, como o Pix Automático, a solução que alcança de vendedor ambulante a grandes companhias deve se tornar também uma alternativa para empresas. Parte vai se voltar para os stablecoins, parte será atendida por essa e novas funcionalidades do Pix. _

GPS DA ECONOMIA

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