quarta-feira, 19 de novembro de 2025


19 de Novembro de 2025
OPINIÃO RBS

O Master e suas circunstâncias

A liquidação extrajudicial do Banco Master e a prisão de seu dono, Daniel Vorcaro, é só o capítulo mais rumoroso até aqui de uma trajetória que há muito gerava desconfianças no mercado e em órgãos que fiscalizam o sistema financeiro nacional. Das entrelinhas das informações que ontem vieram a público, após a deflagração da Operação Compliance Zero, pela Polícia Federal (PF), depreende-se que o caso pode ter repercussões ainda mais explosivas. 

Esses desdobramentos estão relacionados à possibilidade de ser revelada uma teia de influências políticas e de interesses inconfessáveis que atuava para a manutenção de negócios no mínimo duvidosos quanto à viabilidade econômica. Conforme a PF, muito mais do que ousadia, o que existia era uma fraude bilionária. Espera-se uma investigação robusta que elucide essas conexões.

Já intrigava os agentes do mercado o crescimento vertiginoso do Master, oferecendo investimentos em CDBs remunerados a taxas muito superiores ao usual. Uma nova surpresa veio em março, quando o BRB, banco estatal do Distrito Federal, anunciou a compra do Master. A operação gerou cismas generalizadas pelas dúvidas quanto à saúde financeira da instituição de Vorcaro, homem com estreitas relações políticas. 

Em setembro, o Banco Central (BC) barrou a operação pela falta de lógica econômico-financeira. Havia receio de ativos podres do Master contaminarem o BRB, que demonstrava estranho afinco em fechar a compra. Mais esquisita foi a reação à negativa que em seguida surgiu no Congresso, tocada pelo centrão, de propor projeto de lei que permitiria ao parlamento destituir presidentes e diretores do BC. Antes, em agosto, veio a público que metade dos fundos do banco era administrada por empresas financeiras que foram alvo da Operação Carbono Oculto, da PF, que mirou a infiltração do PCC em setores da economia.

Além de Vorcaro, a Compliance Zero prendeu outras quatro pessoas ligadas à instituição. Até o final da tarde de ontem, ainda havia mandado de prisão expedido pela Justiça Federal de Brasília em aberto. O presidente e o diretor financeiro do BRB foram afastados dos cargos. A ação da PF ocorreu um dia após ser anunciada a compra do Master pela Fictor Holding Financeira, grupo dos Emirados Árabes Unidos. A operação é cancelada pela liquidação decretada pelo BC.

As investigações apontam que o BRB tentou amparar o Master com a injeção de R$ 16,7 bilhões, sendo R$ 12,2 bilhões com indícios de fraude. Eram carteiras de crédito inexistentes vendidas ao banco estatal. O fundo Rioprevidência, que paga aposentadorias a 235 mil servidores inativos do Rio, aplicou entre 2024 e 2025 cerca de R$ 1 bilhão em fundos do Master, a despeito de alertas do Tribunal de Contas fluminense.

Ainda que regras do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) garantam a cobertura de até R$ 250 mil investidos por aplicador em caso de liquidação, milhares de investidores terão no mínimo dor de cabeça para reaver seus recursos. Outros tantos seguirão mergulhados na incerteza. Deve-se apurar com rigor as responsabilidades das pessoas ligadas aos bancos e também esclarecer se operações temerárias foram fechadas por influência de agentes políticos. 

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