
Direto de Belém
Onde pulsa o coração da COP
Quem acompanha as conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas conhece o ditado: a Blue Zone ("Zona Azul") é o cérebro da COP, a Green Zone ("Zona Verde") é o coração. Isso é muito verdade no evento destes dias em Belém.
A Blue Zone é restrita - e até excludente. Por ser a zona de decisão, onde circulam chefes de Estado e governo, ministros e negociadores, o acesso é feito por meio de credenciamento, e a segurança costuma ser rigorosa.
A Zona Verde é aberta ao público e gratuita. Cumpre - ou deveria cumprir - o papel de ponte entre os grandes debates globais sobre ambiente e a população, em geral, a maior vítima dos eventos extremos. É ali também que estão os pavilhões de empresas do setor de energia, de tecnologia, o agro sustentável e a inovação.
Nas duas últimas COP, em Dubai (COP28) e Baku (COP29), a Green Zone tinha tudo isso - mas pendia mais para o segundo grupo. Faltava povo.
Democrática, plural e diversa
Na COP do Brasil, a Zona Verde é a mais democrática, plural e diversa da história: é emocionante ver grupos indígenas, com instrumentos musicais e cantos, com sua voz ecoando por corredores ao lado de empresários. Isso também deveria ocorrer na Blue Zone, é verdade. Mas o mundo levou 30 anos para assistir a isso. Em nenhuma outra COP o coração da conferência pulsou em alta rotação como na Zona Verde do Brasil. _
Um mapa-múndi com Belém ao centro
Depois do mapa-múndi invertido e com o Brasil ao centro, o IBGE lançou uma nova versão: um mapa-múndi com Belém, capital paraense, em destaque. O material é uma homenagem à realização da COP30.
Segundo o instituto, o objetivo é marcar o compromisso do órgão em construir a transição ecológica justa e sustentável.
"O IBGE homenageia todos os povos que concentram suas esperanças de um futuro comum melhor, com justiça e sustentabilidade ambiental, especialmente a todos os que se reúnem em Belém, capital do Estado do Pará", escreveu o presidente do IBGE, o gaúcho Márcio Pochmann, em sua conta no X. _
Entrevista - Liliam Chagas de Moura- Diretora do Departamento de Clima do Itamaraty e negociadora da COP30
"O que aconteceu no RS está ajudando a terem consciência sobre adaptação"
Natural de São Gabriel, Liliam Chagas de Moura, diretora do Departamento de Clima do Itamaraty, é uma das principais negociadoras do Brasil na COP30.
A COP30 começou com um clima de otimismo em razão do acerto da agenda, o que evita atrasos e entraves a partir de novas propostas. Esse otimismo continua?
Sim, estou superotimista. O primeiro passo, que é a agenda, nas últimas duas COPs, atrasou um pouco em função de quais temas seriam propostos. Neste ano, em função dos itens que foram apresentados de última hora, havia sete novos. Nós passamos, então, todo domingo negociando como tratá-los e achamos uma solução relativamente cedo.
Foi possível abrir a COP no horário: "Temos agenda, não é um ambiente conflitivo, é um ambiente de cooperação, vamos começar os trabalhos". Como no primeiro dia houve a plenária, com a participação do presidente, as salas negociadoras só foram abertas mesmo ontem (terça-feira). Então, hoje (quarta-feira) é o segundo dia, na prática. Como são duas semanas de negociações, é normal que os temas avancem mais rápido, mas, depois, recuem, eventualmente. Isso é da dinâmica. Agora, temos de negociar e entrar em acordo sobre temas superimportantes.
Quais os principais?
Um dos principais são mandatos, são encomendas que o processo diz: "Olha, em novembro de 2025, devem ser acordados os indicadores para adaptação. São decisões anteriores que encomendam resultados para essa COP. E são coisas que vêm acontecendo no último ano, para que, aqui, se culmine e se tome a decisão. É difícil? É, porque são muitas partes, quase 200 países e é regra de consenso. Mas é isso, para manter esse processo vivo e deixando que todos os mecanismos, as ferramentas e fundos que foram criados, sejam aperfeiçoados, é preciso que essas decisões sejam tomadas.
Como gaúcha, sabendo o que o RS viveu, como é ser uma das principais negociadoras do Brasil na COP no seu país?
O que se constrói aqui são as ferramentas para os países evitarem esse problema. E se o evento acontecer, como aconteceu no RS, estarem mais preparados. Acho que me dá mais ânimo para aperfeiçoar essas ferramentas. O que aconteceu no RS está ajudando as comunidades, as prefeituras, a terem mais consciência sobre a importância da adaptação: como construir pontes, planejar os novos bairros, como as escolas podem ser reformadas ou construídas de uma forma que não vão desaparecer na primeira água. Eu tenho visto projetos mais resilientes. Por exemplo, o ginásio das crianças não sendo construído no térreo, sendo em um andar acima, porque também pode servir de abrigo numa catástrofe. Esse tipo de coisa que estamos tendo de se adaptar à força, pela força das águas.
Mas esse tipo de ferramentas e de experiências que saem desse processo da ONU, do regime do clima, fica evidente que tem uma aplicabilidade na vida real das pessoas. E essa COP aqui está lançando uma novidade, que é o mais novo fundo do clima, o Fundo para Responder por Perdas e Danos. É aquela última etapa da mudança do clima. Depois que você já fez tudo o que tinha que fazer, mas sofreu, como o RS. Então, ele vai ser uma rápida alocação de recurso para compensar perdas no terreno. Esse processo tem de chegar mais na ponta e as pessoas saberem que têm para onde recorrer.
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